domingo, 3 de novembro de 2013

Discurso


DISCURSO

Tenho palavras vivas dentro de mim.
Como formiguinhas elas carregam
Folhas gigantescas pelos trilhas:

Forragens inusitadas em ermos chãos!


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Lembranças

ÁLVARES, Shirlene

Fingi que ia, não fui
Pra ficar, fiz planos
E foram aquelas fotos, naquele tempo
Que me prenderam
às lembranças...
eternas e fulgurosas.
Queimam-me ainda aquela paixão
Foi alguma palavra que disse, não! Não disse
Fiquei atenta para ouvi-la
Veio a despedida

Separamos.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Indignar-se


ÁLVARES, Shirlene

Indignação tem fé
Tem homem, criança e mulher
Tem política
Tá na cultura
Mistura as raças
Divide as crenças
E encara, e luta
Vai adiante
Enfrenta
Fala, grita
Tá no verbo, tá na carne
Indignação tá no sujeito
Que desaprendeu a dizer NÃO
A vida tem jeito
Sobreviver é insuficiente
“A gente quer comida, diversão e arte
A gente quer uma saída para qualquer parte”
Não queremos só dinheiro
Queremos felicidade!

Queremos inteiro e não pela metade!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Um desamor

ÁLVARES, Shirlene 

O improvável se deu...
De forma que não podia se dar...
Encontramos você e eu
Feito vinho, água e mar
Nem sinfonia, nem rufar de tambores
Uma melodia solta no ar
Tecitamos verdades, realidades
Abraçamos a presença e vivemos a distância
Palavras silenciosas
Beijos sem ter sido dados
Entrecortamos uma história
Que não vingou, nem hoje
Nem outrora
Partimos, sem memórias
Desertos inteiros haveremos de dissolver
Em areia e sal
Em fel sem o mel...
Um dor contida
Um lapso de amor!!!
Que pena!


em 06 de junho de 2013 às 13h48min

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Meu repertório

- 8 horas, 28 minutos e 18 crianças no caldeirão - Beatriz Mirha
-  A formiguinha e a neve – Braguinha
- A história de Sherazade – Ruth Rocha
- Alimentando com língua - Conto popular
- A morte ou o casamaneto - Yaciara Nara
- A mula-sem-cabeça – Roberto Carlos Ramos
- A rã e o boi - Fábula 
- A vogal ‘i’ quer ir embora – Grupo Melhores do Mundo
- Árvore genealógica – Luís Fernando Veríssimo
- As fadas – Charles Perrault
- Campo Santo – Bia Bedran
- Chupa essa manga, doutora! – Mirelle Araújo
- Como se fosse dinheiro – Ruth Rocha
- Coração conta diferente – Lino de Albergaria
- Deus Negro - Neimar de Barros
- Dona Baratinha - Conto popular
- Epidemia ao contrário - Ricardo Azevedo
- É possível, mesmo sem a Lâmpada de Aladim? - Shirlene Álvares
- Esquecer para lembrar – Rubem Alves
- Felicidade Clandestina – Clarice Lispector
- Festa no céu para cachorros - conto popular
- Geni e o Zepelim - Chico Buarque de Holanda
- João Jiló – conto popular mineiro
- O acordo – Shirlene Álvares
- O caso do espelho – Ricardo Azevedo, publicado na Revista Nova Escola
- O caso do mineirinho – Conto popular mineiro
- O diário do lobo: a verdadeira história dos três porquinhos – John Scieska
- O gato e a barata – Millôr Fernandes
- O nome da fruta - um reconto de Chico dos Bonecos 
- Orgulhosa – Trasíbulo Ferraz
- Meu nome é felicidade – Autor desconhecido
- Pato Patareco de Daniel Adalberto - Antônio Torrado
- Perfume de mãe – Autor desconhecido, texto de reflexão retirado da internet
- Por causo de amor... - Alexandre Gaioto
- Por que Eva comeu a maçã? – Shirlene Álvares
- Solideriedade - Autor desconhecido
- Tereza tinha os lábios grossos – Lenda jaraguense
- Um homem de consciência – Monteiro Lobato
- Um homem sem sorte – Roberto Carlos Ramos
- Ver-de-ver meu pai – Celso Sisto

domingo, 21 de abril de 2013

É possível, mesmo sem a lâmpada de Aladim?

ÁLVARES, Shirlene

Eram cinco princesas. Uma se chamava Segunda Feira, a outra Terça Feira, a terceira se chamava Quarta Feira, a quarta se chamava Quinta Feira e, é lógico, que a quinta filha se chamava Sexta Feira. O pai era o Rei Domingo e a mãe a Rainha Semana.
As filhas tinham características bem diferentes uma das outras. A Segunda Feira era negra e imaginava que nenhum príncipe branco de olhos azuis iria querê-la um dia.
A Terça Feira era obesa e achava que nenhum príncipe se apaixonaria por uma mulher gorda como ela!
Já a Quarta Feira olhava-se no espelho e não acreditava: “Sou magra demais, seca. Como um príncipe como o de Branca de Neve poderá abraçar uma esquelética como eu?”
A Quinta Feira era anã e sardenta. Já a Sexta Feira era vesga e tinha pouquíssimo cabelo, e, ainda por cima, usava um fundo de garrafa horrível!
Cada uma delas se debruçava no colo da mãe e chorava, e chorava... porque todas sonhavam com um príncipe encantado como os de Cinderela e Rapunzel.
A Sexta Feira nem frequentava as aulas porque mesmo usando óculos, os colegas lhe chamavam de zarolha. A Quinta Feira não via solução para seu tamanho, ficava indignada com as roupas que nunca lhe cabiam, as de adulto eram grandes demais, as de criança eram apertadas.
Cada uma tinha do que reclamar. De que adiantava serem filhas do Rei Domingo e da Rainha Semana, se nenhum príncipe se casaria com elas. De que adiantava o rei ser Rei se as filhas eram cheias de complexos?
E, quando apareceu por aquele reino, o príncipe Sábado, filho da rainha Terra e do rei Ano. Houve uma festança. Mas, quem disse que as princesas apareceram no salão? A rainha Semana quase enlouqueceu! E, foi neste dia, que apareceu na janela da Quinta Feira um vendedor de quinquilharias e ofereceu-lhe uma lâmpada bem velha e enferrujada.
Ela comprou por dó do homem, que era maltrapilho.
Ele jogou a prenda que custara apenas 10 moedas e a QF quase a deixou cair. Colocou-a na penteadeira. Para sua surpresa nem precisou que a esfregasse e o Gênio saiu de lá dançando um rap pronto pra balada:
Sou gênio dessa lâmpada
Você agora é minha ama
Três pedidos pode fazer
E eu faço acontecer

O Gênio nem precisou repetir.
- “Quero ser alta, ser normal.”
Antes que ela fechasse os olhos, estava com 1,80m. Nem acreditou! Olhou no espelho mais de dez vezes e saiu correndo. Entrou no salão da festa em disparada. O príncipe já havia partido. A família ficou atordoada com os gritos da princesa:
- É um milagre, um milagre!
Jamais contaria que era um gênio, o responsável por tamanha transformação!
A rainha Semana e o rei Domingo ficaram sem palavras, mas felizes com a felicidade de QF. No entanto, as irmãs não ficaram nada felizes. Pois, QF era agora, a melhor concorrente do reino.
Na manhã seguinte, apareceu um mascate, com a novidade praquele reino: o computador com internet e facebook, twitter, instagram e wathsapp. A Terça, a Quarta Feira e a Sexta empolgaram-se! A Terça conheceu a herbalife pela internet e parou de comer, só tomava shake. A Quarta usou o photoshop para melhorar suas fotos e ficou linda! Com alguns músculos e formas torneadas, arrumou vários namorados virtuais. A Sexta marcou várias cirurgias com médicos de outros reinos, trocou os óculos por lentes azuis de contato e fez pedido no mercado livre de vários apliques para o cabelo.
Enquanto as irmãs viajavam na internet, a QF pensava em um novo pedido, mas descuidou-se da lâmpada. Quando se deu conta do sumiço, procurou, procurou e não encontrou. A Senhorita Dia, serva do palácio, havia encontrado a lâmpada e esfregou-a tentando lustrar. Foi quando o gênio apareceu... e dedicou a ela 3 pedidos. Ela que não era boba nem nada, pediu que o gênio se transformasse em um lindo homem, que fosse apaixonado por ela e que fosse rico. Num estalar de dedos o gênio fez o pedido dela se tornar realidade. Com o dinheiro que tinha, o ex gênio pediu srta. Dia em casamento, deu dinheiro para várias cirurgias e procedimentos que a transformaram em uma deusa. Ela fez plástica, lipo, botox, implante de cabelo, clareamento de dentes, silicone, etc, etc. As princesas da Segunda até a Sexta Feira nem de longe ficaram bonitas como a srta. Dia. Esta casou-se com o ex gênio e foram felizes pra sempre.
A segunda continuou negra e continuava se vendo indesejada por qualquer príncipe de olhos azuis, até o dia que fez um curso de modelo e virou top model. Nem preciso dizer quantos homens caíram aos seus pés.
A Terça fez um tratamento de reeducação alimentar, deixou a obesidade para traz e nunca mais se preocupou em ter um príncipe. Mas, um dia, um ator de cinema esteve em seu reino e a levou pra Hollywood.
A Quarta criou vergonha e montou uma academia no palácio, o personal trainning dela era um tipo entre Thiago Lacerda e Rodrigo Lombardi. Nem pensava mais em casamento.
A QF não encontrou solução para as sardas, mas com seus 180 cms há quem diga que não atrapalhou em nada o seu casamento com um conde de 50 anos, dono do reino que seria o maior produtor de petróleo do mundo.
A Sexta estudou, fez graduação, mestrado e doutorado e nem quer saber de casar.
Rainha Semana e rei Domingo ainda torcem para que uma das filhas solteiras se case com o príncipe Sábado. Já, o príncipe só quer saber de balada, não quer namorar, muito menos casar. Bebe demais!

Moral dessa história besta:
- Em pleno Séc. XXI, não existem príncipes encantados, existe mulher apaixonada!
- Você não precisa de um gênio para mudar-se por fora e por dentro. Precisa de atitude e de dinheiro!
- Todos nós temos defeitos se colocarmos os olhos dos outros como óculos da gente!
- Nem todo castelo tem rei e rainha. Muito ser humano vive melhor sozinho!
- Namorar, amar, casar, ser príncipe e princesa, pode ser maravilhoso nos contos de fadas, pergunte ao colega do lado o que ele acha do casamento?


domingo, 10 de março de 2013

Coma os morangos


Um sujeito estava caindo em um barranco e se agarrou às raízes de uma árvore. Em cima do barranco, havia um urso imenso querendo devorá-lo. O urso rosnava, mostrava os dentes, babava de ansiedade pelo prato que tinha à sua frente. Embaixo, prontas para engoli-lo quando caísse, estavam nada mais nada menos do que seis onças tremendamente famintas. 
Ele erguia a cabeça, olhava para cima e via o urso rosnando. Abaixava depressa a cabeça para não perdê-la na sua boca. Quando o urso dava uma folga, ouvia o urro das onças, próximas de seu pé. As onças embaixo querendo comê-lo, e o urso em cima querendo devorá-lo. 
Em determinado momento, ele olhou para o lado esquerdo e viu um morango vermelho, lindo, com aquelas escamas douradas refletindo o sol. Num esforço supremo, apoiou seu corpo, sustentado apenas pela mão direita, e, com a esquerda, pegou o morango. Quando pode olhá-lo melhor, ficou inebriado com sua beleza. Então, levou o morango a boca e se deliciou com o sabor doce e suculento. Foi um prazer supremo comer aquele morango tão gostoso. 
Talvez você me pergunte: 
“Mas, e o urso?” Dane-se o urso e coma os morangos! 
“E as onças?” Azar das onças, coma os morangos! 
Às vezes, você está em sua casa no final de semana com seus filhos e amigos, comendo um churrasco. Percebendo seu mau humor, seu (sua) esposo (a) lhe diz: – Meu bem, relaxe e aproveite o domingo! 
E você, chateado(a), responde: “Como posso curtir o domingo se amanhã vai ter um monte de ursos querendo me pegar na Empresa?” 
Relaxe e viva um dia por vez. Coma o morango. 
Problemas acontecem na vida de todos nós, até o último suspiro. Sempre existirão ursos querendo comer nossas cabeças e onças, arrancar nossos pés. Isso faz parte da vida, é importante saber comer os morangos, sempre. A gente não pode deixar de comê-los só porque existem ursos e onças. 
Você pode argumentar: Eu tenho muitos problemas para resolver. 
Problemas não impedem ninguém de ser feliz. O fato de seu chefe ser um chato não é motivo para você deixar de gostar de seu trabalho. O fato de sua mulher estar com tensão pré-menstrual não os impede de tomar sorvete juntos. O fato do seu filho ir mal na escola não é razão para não dar um passeio pelo campo. 
Coma o morango, não deixe que ele escape. Poderá não haver outra oportunidade para experimentar algo tão saboroso. Saboreie os bons momentos. Sempre existirão ursos, onças e morangos. Eles fazem parte da vida. Mas o importante é saber aproveitar o morango, porque o urso e a onça não dá para aproveitar. Coma o morango quando ele aparecer. Não deixe para depois. O melhor momento para ser feliz é agora. 
O futuro é uma ilusão que sempre será diferente do que imaginamos. As pessoas vêem o sucesso como uma miragem. Como aquela historia da cenoura pendurada na frente do burro que nunca a alcança. 
As pessoas visualizam metas e, quando as realizam, descobrem que elas não trouxeram felicidade. Então, continuam avançando e inventam outras metas que também não as tornam felizes. Vivem esperando o dia em que alcançarão algo que as deixará felizes. 
Elas esquecem que a felicidade é construída todos os dias. 
A felicidade não é algo que você vai conquistar fora de você. 
A felicidade é algo que vive dentro de você, de seu coração. 
A felicidade é a oportunidade que você cria para ser o artista de sua autocriação.

  (Roberto Shinyashiki) 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O direito de não amar


Lygia Fagundes Telles

Se o homem destrói aquilo que mais ama, como afirma Oscar Wilde, a vontade de destruição se aguça demais quando aquilo está amando um outro. O egoísmo, sem dúvida o traço mais poderoso de qualquer sexo, transborda então intenso e borbulhante como água em pia entupida, artérias e canos congestionados na explosão aguda: “Nem comigo nem com ninguém!” Deste raciocínio para o tiro veneno ou faca, vai um fio.
A segunda porta foi a que escolheu aquele meu colega de Academia quando descobriu que a pior das vinganças é não matar, mas deixar o objeto amado viver, viver à vontade, “pois que ela viva!” – decidiu ele na sua fúria vingativa.

Amou-a perdidamente. Acho que nunca vi ninguém amar tanto assim, talvez com a mesma intensidade com que ela amava o primo, disse isso mesmo numa hora de impaciência, estou apaixonada por outro, quer ter a bondade de desaparecer da minha frente? Mas o meu colega (vinte anos?) acreditava na luta e como ele lutou, meu Deus, como ele lutou! Tentou conquistá-la com presentes, era rico. Depois, com intermináveis poemas de amor, era poeta. Na fase final, no auge da cólera – era violento – começou com as ameaças. Ela guardou os presentes, rasgou os poemas, fez a queixa a um tio que era delegado da seção de homicídios e foi cair nos braços do primo sem os recursos da rima e dos diamantes, mas que conseguia fazê-la palpitar mais branca e perfumada do que a açucena do campo. 

Meu colega dava murros nas paredes, nos móveis. Puxava os cabelos, “ela não tem o direito de me fazer isso!” Com a débil voz da razão, tentei dizer-lhe que ela bem que tinha esse direito de amar ou não amar vê se entende essa coisa tão simples! Mas ele era só ilogicidade e desordem: “Vou lá, dou-lhe um tiro no peito e me mato em seguida!” – jurou. Mas a tantos repetiu esse juramento que fiquei mais tranquilizada   com a esperança de que a energia canalizada para o ato acabaria se exaurindo nas palavras. 

O que aconteceu. Uma noite me procurou todo penteado, todo contido, com um sorrisinho no canto da boca, meio sinistro, mas lúcido: “Vou ficar quieto, que se case com esse tipo, ótimo que se casem depressa porque é nesse casamento que está minha vingança. No casamento e no tempo. Se nenhum casamento dá certo, por que o deles vai dar? Vai ser infeliz à beça!” Pobre, com um filho debiloide  já andei investigando tudo, ele tem retardados na família, ih! O quando ela vai se arrepender, por que não me casei com outro? Vai ficar gorda, tem propensão para engordar e eu estarei jovem e lépido porque sou esportista e rico, vou me conservar, mas ela, velha, obesa, ô delícia. 

Há ainda uma terceira porta, saída de emergência para os desiludidos do amor, não, nada de matar o objeto da paixão ou esperar com o pensamento negro de ódio que ela vire uma megera jogando moscas na sopa do marido hemiplégico, mas renunciar. Simplesmente renunciar com o coração limpo de mágoa ou rancor, tão limpo que em meio do maior abandono (difícil, hem!) ainda tenha forças para se voltar na direção da amada como um girassol na despedida do crepúsculo. E desejar ao menos que ela seja feliz.



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A História de Sherazade

Há muito tempo, havia um rei muito rico e muito poderoso: chamava-se Sharyar.
Um dia este rei descobriu que a mulher dele, quando ele viajava, o traía. É claro que o rei ficou furioso! Estes reis antigos eram terríveis. Sharyar ficou com ódio das mulheres.
Então resolveu fazer assim: casava todo dia com uma mulher nova, e no dia seguinte mandava matar. Assim não tinha perigo de ele ser traído. Já não havia mais moça solteira naquele lugar. E as que tinham sobrado se escondiam muito bem, com muito medo.
O primeiro-ministro precisava arranjar todo dia uma noiva nova para o rei. Mas um dia ele voltou para casa muito aborrecido porque não conseguiu descobrir moça nenhuma! Este primeiro-ministro tinha uma filha chamada Sherazade, que era muito bonita e, o que é melhor, era muito inteligente.
Nesse dia, vendo que o pai estava apavorado, com muito medo, Sherazade se ofereceu para casar com o rei. O ministro não quis nem ouvir falar nisto. Mas Sherazade pediu, insistiu, dizendo que ia salvar o reino, que ia dar um jeito no tal Rei.
O pai da moça acabou deixando ela ir, porque na verdade ele também não sabia o que fazer. O rei quis logo abraçar a moça, mas viu que ela estava chorando. Isso já fazia parte dos planos de Sherazedo.
 - O que é que aconteceu? – o rei perguntou.
- É que eu tenho uma irmã pequena – respondeu Sherazade – e eu queria que ela viesse dormir comigo na minha última noite.
O rei mandou buscar a irmã, Dunyazade.
De madrugada, antes que o rei se levantasse, Dunyazade pediu a Sherazade que, pela última vez, lhe contasse uma história. Sherazade pediu licença ao rei para atender a irmã. Sherazade era uma contadora de histórias incrível. Quem ouvia suas histórias ficava encantado e queria que ela contasse outras histórias e outras mais.
E Sherazade começou a contar uma história muito interessante, e o próprio rei ficou fascinado com o que ela estava contando. Então o sol começou a nascer. Entre os árabes, esta é a hora de fazer orações. Sherazade parou a história no meio.
Não se sabe se o rei estava muito interessado na história ou se estava interessado na moça. A verdade é que ele permitiu que Sherazade ficasse viva só mais um dia, apenas para acabar a história.
Mas as histórias da moça eram longas, e dentro das histórias havia outras histórias, e dentro destas outras, outras mais, de maneira que a narrativa foi se alongando e durou… mil e uma noites, ao fim das quais o rei já estava apaixonado por Sherazade e não quis mais saber de matá-la e nem de matar mais ninguém. 

(Rocha, Ruth. Histórias das mil e uma noites. São Paulo: FTD,1991)