sexta-feira, 8 de julho de 2016

É possível mesmo sem a lâmpada de Aladim?

Autoria: Shirlene Álvares
Narradora: Shirlene Álvares


“A beleza é passageira e a feiura é um bem que a gente tem pra vida inteira...” 
Gabriel Pensador
Quando escrevi o conto “É possível mesmo sem a lâmpada de Aladim?” eu procurava uma história pra contar no espetáculo “Eros uma vez... – histórias de amor” de 2013, que falasse dessa busca eterna da mulher em se manter num padrão de beleza estereotipado. Um texto que criticasse a autoestima baixa que muitas mulheres têm por conta dos fatores estéticos. E toda essa preocupação deveria comungar com o fator do sonho de se casar, mas o desfecho tinha que surpreender. Escrevi a história. Para eu contar. Pra ser feliz, precisamos nos amar primeiro, do jeito que somos, podemos vez por outra até buscar cuidados especiais com saúde que repercuta na beleza, mas sofrer por estereótipos de padrão de beleza impostos pela sociedade machista e opressora, jamais! Saboreie a história.

É possível, mesmo sem a lâmpada de Aladim?

Shirlene Álvares


Eram cinco princesas. Uma se chamava Segunda Feira, a outra Terça Feira, a terceira se chamava Quarta Feira, a quarta se chamava Quinta Feira e, é lógico, que a quinta filha se chamava Sexta Feira. O pai era o Rei Domingo e a mãe a Rainha Semana.
As filhas tinham características bem diferentes uma das outras. A Segunda Feira era negra e imaginava que nenhum príncipe branco de olhos azuis iria querê-la um dia.
A Terça Feira era obesa e achava que nenhum príncipe se apaixonaria por uma mulher gorda como ela!
Já a Quarta Feira olhava-se no espelho e não acreditava: “Sou magra demais, seca. Como um príncipe como o de Branca de Neve poderá abraçar uma esquelética como eu?”
A Quinta Feira era anã e sardenta. Já a Sexta Feira era vesga e tinha pouquíssimo cabelo, e, ainda por cima, usava um fundo de garrafa horrível!
Cada uma delas se debruçava no colo da mãe e chorava, e chorava... porque todas sonhavam com um príncipe encantado como os de Cinderela e Rapunzel.
A Sexta Feira nem frequentava as aulas porque mesmo usando óculos, os colegas lhe chamavam de zarolha. A Quinta Feira não via solução para seu tamanho, ficava indignada com as roupas que nunca lhe cabiam, as de adulto eram grandes demais, as de criança eram apertadas.
Cada uma tinha do que reclamar. De que adiantava serem filhas do Rei Domingo e da Rainha Semana, se nenhum príncipe se casaria com elas. De que adiantava o rei ser Rei se as filhas eram cheias de complexos?
E, quando apareceu por aquele reino, o príncipe Sábado, filho da rainha Terra e do rei Ano. Houve uma festança. Mas, quem disse que as princesas apareceram no salão? A rainha Semana quase enlouqueceu! E, foi neste dia, que apareceu na janela da Quinta Feira um vendedor de quinquilharias e ofereceu-lhe uma lâmpada bem velha e enferrujada.
Ela comprou por dó do homem, que era maltrapilho.
Ele jogou a prenda que custara apenas 10 moedas e a QF quase a deixou cair. Colocou-a na penteadeira. Para sua surpresa nem precisou que a esfregasse e o Gênio saiu de lá dançando um rap pronto pra balada:
Sou gênio dessa lâmpada
Você agora é minha ama
Três pedidos pode fazer
E eu faço acontecer
O Gênio nem precisou repetir.
- “Quero ser alta, ser normal.”
Antes que ela fechasse os olhos, estava com 1,80m. Nem acreditou! Olhou no espelho mais de dez vezes e saiu correndo. Entrou no salão da festa em disparada. O príncipe já havia partido. A família ficou atordoada com os gritos da princesa:
- É um milagre, um milagre!
Jamais contaria que era um gênio, o responsável por tamanha transformação!
A rainha Semana e o rei Domingo ficaram sem palavras, mas felizes com a felicidade de QF. No entanto, as irmãs não ficaram nada felizes. Pois, QF era agora, a melhor concorrente do reino.
Na manhã seguinte, apareceu um mascate, com a novidade praquele reino: o computador com internet e facebook, twitter, instagram e wathsapp. A Terça, a Quarta Feira e a Sexta empolgaram-se! A Terça conheceu a herbalife pela internet e parou de comer, só tomava shake. A Quarta usou o photoshop para melhorar suas fotos e ficou linda! Com alguns músculos e formas torneadas, arrumou vários namorados virtuais. A Sexta marcou várias cirurgias com médicos de outros reinos, trocou os óculos por lentes azuis de contato e fez pedido no mercado livre de vários apliques para o cabelo.
Enquanto as irmãs viajavam na internet, a QF pensava em um novo pedido, mas descuidou-se da lâmpada. Quando se deu conta do sumiço, procurou, procurou e não encontrou. A Senhorita Dia, serva do palácio, havia encontrado a lâmpada e esfregou-a tentando lustrar. Foi quando o gênio apareceu... e dedicou a ela 3 pedidos. Ela que não era boba nem nada, pediu que o gênio se transformasse em um lindo homem, que fosse apaixonado por ela e que fosse rico. Num estalar de dedos o gênio fez o pedido dela se tornar realidade. Com o dinheiro que tinha, o ex gênio pediu srta. Dia em casamento, deu dinheiro para várias cirurgias e procedimentos que a transformaram em uma deusa. Ela fez plástica, lipo, botox, implante de cabelo, clareamento de dentes, silicone, etc, etc. As princesas da Segunda até a Sexta Feira nem de longe ficaram bonitas como a srta. Dia. Esta casou-se com o ex gênio e foram felizes pra sempre.
A segunda continuou negra e continuava se vendo indesejada por qualquer príncipe de olhos azuis, até o dia que fez um curso de modelo e virou top model. Nem preciso dizer quantos homens caíram aos seus pés.
A Terça fez um tratamento de reeducação alimentar, deixou a obesidade para traz e nunca mais se preocupou em ter um príncipe. Mas, um dia, um ator de cinema esteve em seu reino e a levou pra Hollywood.
A Quarta criou vergonha e montou uma academia no palácio, o personal trainning dela era um tipo entre Thiago Lacerda e Rodrigo Lombardi. Nem pensava mais em casamento.
A QF não encontrou solução para as sardas, mas com seus 180 cms há quem diga que não atrapalhou em nada o seu casamento com um conde de 50 anos, dono do reino que seria o maior produtor de petróleo do mundo.
A Sexta estudou, fez graduação, mestrado e doutorado e nem quer saber de casar.
Rainha Semana e rei Domingo ainda torcem para que uma das filhas solteiras se case com o príncipe Sábado. Já, o príncipe só quer saber de balada, não quer namorar, muito menos casar. Bebe demais!


Moral dessa história besta:
- Em pleno Séc. XXI, não existem príncipes encantados, existe mulher apaixonada!
- Você não precisa de um gênio para mudar-se por fora e por dentro. Precisa de atitude e de dinheiro!
- Todos nós temos defeitos se colocarmos os olhos dos outros como óculos da gente!
- Nem todo castelo tem rei e rainha. Muito ser humano vive melhor sozinho!
- Namorar, amar, casar, ser príncipe e princesa, pode ser maravilhoso nos contos de fadas, pergunte ao colega do lado o que ele acha do casamento?


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Por causo de amor por Shirlene Álvares




"Por causo de amor" é um texto de Alexandre Gaioto formado em Letras (UEM) e Jornalismo (CESUMAR). Mestre em Estudos Literários (UEM). Colaborou com o caderno de cultura dos jornais Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Zero Hora, Gazeta do Povo, O Estado do Paraná, Folha de Londrina, Cândido e com as revistas Cult e Helena (Biblioteca Pública do Paraná). Um dos autores na "Antologia de Poetas Paranaenses" (Biblioteca Pública do Paraná). É repórter do jornal O Diário do Norte do Paraná, em Maringá.
Encontrei este texto no Blog pessoal dele: https://www.blogger.com/profile/00372...

Digo aos meus ouvintes que a história que me encontrou. Quando estava procurando um texto para o Espetáculo "Eros uma vez..." do ano do ano de 2013, essa história estava ali na tela do computador, e eu não pude me desviar dela. Ela fisgou-me e agradeço Alexandre Gaioto por tê-la escrito. Nem sei quantas lágrimas já se esvaíram por conta desta história!

História contada por Shirlene Álvares no Espetáculo "Eros uma vez..." - histórias de amor em junho de 2013.

Nada Além... com Maria do Carmo e Eugênio


domingo, 3 de julho de 2016

"O quarto de Jack" e "Mister PIP (uma grande esperença)


Assisti neste domingo a dois bons filmes. O primeiro “O quarto de Jack” em que o narrador é um menino que começa sua narração aos cinco anos de idade. O segundo filme “Mister PIP” a narrativa fica por conta de uma adolescente negra. Em ambos os  filmes a ligação da criança narradora é muito forte com a mãe. NO Quarto de Jack, a narrativa é de uma história que não foge da realidade que já ouvimos nas tragédias televisivas. Um homem sequestra uma mulher e a tem em cativeiro por 7 anos. Jack é fruto da relação que o homem mantinha com Joy a mãe do menino, e a mãe só resolve contar a verdade ao menino que acha normal viver naquele quarto somente com uma claraboia no tento que dá acesso à luz solar aos cinco anos de idade, e é ele, o menino que a salva do cativeiro. Os resquícios psicológicos são para mãe e filho um enfrentamento para reestabelecer a vida normal e cotidiana. Já no filme “Mister PIP”, numa ilha, Matilda, uma negra, fica envolvida pelas narrativas do único branco – o professor, da ilha que lê durante as aulas obras de Charles Dickens.
Um filme retrata a ingenuidade de quem sai de um cativeiro e desconhece o mundo, há o confronto entre o quarto (prisão) e o mundo do lado de fora que ele precisa conviver e aprender a lidar com tudo que não conhece aos cinco anos de idade porque não teve oportunidade, já Matilda conhece somente a vida da ilha, mas as histórias narradas pelo professor que faz o narrador de Charles Dickens Mister PIP, a leva a um mundo de imaginação e anseio pela vida. Há uma frase no filme que dou destaque no que se refere  ao preconceito de raça, ela pergunta ao professor como ele se ente sendo branco, e ele responde que só se sente branco quando está com eles que são negros e devolve, ainda, a pergunta à menina: e como você se sente sendo negra? Então ela percebe que só é negra porque na ilha tem a presença dele que é branco.
Os dois filmes são dramas, estilo que adoro! E ambos há muito a aprender, o menino tem que se adaptar ao mundo, já que só viveu no ‘quarto’ até os cindo anos. Já a Matilda aprende ter esperanças e usar imaginação. A privação de liberdade está latente nos dois filmes. O menino Jack tem que dormir dentro guarda roupa pra que o carcereiro da mãe possa ter relações com ela, e como pai, nunca aparece pra criança durante os longos 5 anos, já, ela está presa na opressão de nunca poder dizer o que sabe e pensa.
Quando a mãe morre, e Matilda vai atrás do pai na Austrália, assim
A presença da escola no segundo filme deixa claro que a educação informal traz sabedoria, mas que mesmo ela é advinda de livros, no caso do filme, um livro literário.
A mãe de Jack estimula a imaginação da criança dentro de um quarto ínfimo, contando histórias e cantando; já  a mãe de Matilda não a encoraja a aprender e sonhar, mas o desfecho da história, Matilda reencontra o pai que lhe dá dignidade.
A grande lição de ambos filmes é que precisamos recuperar  as histórias de grandes esperanças! Mas, só fazemos isto agindo, sendo atores da história.

E quando assisto a filmes que me provocam essa instigação de pensar sobre trajetórias de vida, fico compadecida de saber que tantos seres humanos sofrem assim, suas vidas só dolorosas. Sinto-me feliz deixar ser penetrada, atravessada vez por outro por dramas, mesmo que fictícios, porque me torna mais humanística. E para encerrar a última frase do livro Grandes Esperanças de Charles Dickens: “É terrível perder com medo o próprio lar”.