segunda-feira, 27 de outubro de 2014

POR AÍ

Por aí
tenho andado
Por aí
vou viajando
Por aí
tenho encontrado você perdido
Volto e parto novamente
Por aí
descubro-me novamente
É por aí, nas esquinas da vida
nos relógios do tempo
que espero o encontro
É por aí
nas ruas do mundo
que tropeço em  sonhos
querendo te encontrar
É bem por ali
numa estrada longinqua
que vejo você partir de mim
sempre adiante...
E o tempo precisa parar
pra que eu possa te alcançar...
Encontrar...
Se foi por aqui que cheguei, nunca parti, fiquei...
Mas você não veio.
E, agora, nem sei se foi  por aí, por aqui ou acolá
Mas, foi por aí que senti vontade de voltar.

Shi, 27/10/2014, às 23h58min

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Ficar só

Nessa fuga pra não te amar
tropeço nos sentimentos
perco as sensações das  descobertas
sinto frio...
Vem fazer-me segredos
juntar-se a mim 
e deixa eu encontrar-me em você...
Só isso que desejo!

No meu quarto, às 22h

quarta-feira, 21 de maio de 2014

POR QUE?

SILVA, Shirlene Álvares

Fez isso por quê?
Fiz porque quis
Fiz de síntese
Fiz com palavras
Fiz no pensamento
Sem lamento
Fiz por você
Fiz para você
Fiz por amor
Encantei-me!!!

POEMA DE LUA

SILVA, Shirlene Álvares da

Fiz pra você um poema de Lua,
Dobrei o papel e guardei na carteira
Era pra ser um presente de enamorados
Era pra ser minha declaração de amor
Quando olhei pro céu em meio a uma tormenta
A Lua tinha minguado...
Você tinha partido
Foi-se meu namorado.
Olhei de novo...
A Lua tinha crescido
Senti no coração uma derrocada
Era a paixão batendo à porta
Pedindo arrego, querendo fazer morada
Eu disse não
Você calou-se,
E eu... vim pra cá
Tô sozinha
Tô pensando
Tô querendo
Falar, gritar, amar...
E só agora olhei pro céu, e senti o peito inflar
É que a Lua tá cheia, e as estrelas brilhando com ela
Mas, aqui o coração vazio e desejando você pra amar...
Fazer o quê?
Declamar pra você o poema que fiz
Da Lua e eu           
E o nosso medo de amar...

Goiânia, 21/05/2014, às 16h30min, no meu quarto




quinta-feira, 8 de maio de 2014

NUMA ILHA QUALQUER

ÁLVARES, Shirlene

Empresta-me teu corpo
Não vivo de roubo
Vamos juntar nossos sonhos
E vender em algum lugar
Vamos casar nossas ideias
Fazer uma mini revolução
E anunciar ao mundo inteiro
A ilusão de amar
Vamos materializar
Sentimentos Madagáscar
Ficar sozinhos numa ilha
Até você meu vício se tornar
Afinal, somos pele
Somos desejo e febre
Podemos morrer agora
E renascer acolá
Você tão sem jeito
Eu cheia de defeitos
Sentaremos pra conversar...
É assim que tem que ser
O momento de se dar
E encontrarmos em nós
A volúpia de amar.
em 07/05/2014, às 18h20min o mesmo motivo


SEGREDOS DA SAUDADE

ÁLVARES, Shirlene

Vou segredar
Coisas de nós dois
Contar o antes e o depois
Sem a devida licença
Você repousou pra ficar
Entrou sorrateiro,
Meio que sem avisar...
Como de costume
Neva em meu calor
Gela meu coração... Ah! Isso não é amor
Encontramo-nos quase nada
Temos caminhos avessos
Eu grito a minha vontade
Cheia de desassossego
E você cala-me com um beijo
De longe tenho saudade
Nos teus braços, aconchego.



em 07/05/2014, às 15h29min 

PELO SIM, PELO NÃO

ÁLVARES, Shirlene

Peço ao coração pra se aquietar
Mas, ao avesso só sabe sonhar
Fico ilimitada na minha sofridão
Descubro profundidades de mim
E também de você
Porque é saudade, então
Vontade de ver e tocar
De revolver este vulcão
Sei que tudo isso é paixão
Mas, fujo, fujo, fujo
Escapulir desses beijos
É uma partida em vão
Porque volto ao lugar do começo
Pelo tempo de ontem,
Foi pelo sim, foi pelo não...

 em 07/05/2014, às  18h07min 






CUIDAR

ÁLVARES, Shirlene

Cuida-me de vez
Faz as horas acontecerem
Sê meu cúmplice de todos os momentos
Percorra sem insensatez
Todo meu corpo
Faz-me amor
No abraço, me proteja
Revele-se em força
Em palavras nuas e silenciosas
Cale a boca e me beija.

em 07/05/2014, às 17h54min inspirada pelo amor


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O dia em que eu mordi Jesus Cristo

Ruth Rocha

Eu estava numa escola onde não tinha aula de religião. E todos os meus amigos já tinham feito a primeira comunhão, menos eu. Então, me deu uma vontade danada de fazer primeira comunhão. Eu nem sabia direito o que era isso, mas falei pra minha mãe e pro meu pai e eles acharam que até podia ser bom, que eu andava muito lavada e coisa e tal, e me arranjaram uma tal de aula de catecismo, que era na igreja.
Aí eu não gostei muito, que todo sábado de manhã, enquanto meus amigos ficavam brincando na rua, eu tinha que ir na tal aula. Eu ia, né, e aí eu arranjei uns amigos e tinha uma menina boazinha que vinha me buscar que ela também ia na aula e a gente ia pra igreja rindo de tudo que a gente via.
E na aula a gente aprendia uma porção de coisas, e tinha uma que eu achava engraçada e que era uma rezinha bem curtinha, que se chamava jaculatória. Eu achava esse nome meio feio, sei lá, me lembrava alguma coisa esquisita...
E o padre uma vez mostrou pra gente um livrão, que tinha uma figura com o inferno e uma porção de gente se danando lá dentro.
E a gente tinha que aprender a rezar a Ave-Maria e o Padre-Nosso e o Creindeuspadre.
E tinha um tal de ato de contrição, e uma tal de ladainha, que a gente morria de rir.
E aí a gente começou a aprender como é que se confessava, que tinha que dizer todos os pecados pro padre e eu perguntava pro padre o que era pecado e ele parece que nem sabia direito.
Quando eu chegava em casa e contava essas coisas, meu pai e minha mãe meio que achavam graça e eu comecei a achar que esse negócio de primeira comunhão era meio engraçado...
E aí o padre começou a explicar pra gente como era a comunhão e que a gente ia comer o corpo de Cristo, que na hora da missa aquela bolachinha chamada hóstia vira o corpo de Cristo.
Eu estava muito animada era com o meu vestido novo, que era branco e era cheio de babados e rendas, e na cabeça eu ia botar um véu, que nem a minha avó na missa, só que o meu era branco e mais parecia uma roupa de noiva.
E eu ganhei um livro de missa lindo, todo de madrepérola, e um terço que eu nem sabia usar, minha mãe disse que antigamente as pessoas rezavam terço, mas que agora não se usava mais...
E o dia da comunhão estava chegando e a minha mãe preparou um lanche, ia ter chocolate e bolo e uma porção de coisas, que a gente ia voltar bem depressa da igreja, que quem ia comungar não ia poder comer antes da missa. E era só eu que ia comungar.
E eu perguntei pra minha mãe por que é que ela nunca comungava e ela disse que um dia desses ela ia.
E eu perguntei por que é que o meu pai nunca ia na igreja e ele disse que um dia desses ele ia.
E aí chegou a véspera da minha comunhão e eu tive de ir confessar. E eu morri de medo de errar o tal ato de contrição e na hora que eu fui confessar mandaram eu ficar de um lado do confessionário, que é uma casinha com uma janelinha de grade de cada lado e um lugar de cada lado para ajoelhar, e o padre fica lá dentro.
Eu ajoelhei onde me mandaram e aí eu ouvia tudo que a menina do outro lado estava dizendo pro padre e era que ela tinha desobedecido a mãe dela e o padre mandou rezar vinte Ave-Marias.
Eu fiquei meio que achando que era pecado ouvir os pecados dos outros, mas como ninguém tinha falado nada pra mim eu fiquei quieta, e quando o padre veio pro meu lado eu fui logo falando o ato de contrição: eu pecador me confesso e o resto que vem depois.
E eu contei os meus pecados, que pra falar a verdade eu nem achava que eram pecados, mas foi assim que me ensinaram. E aí o padre disse uma coisa que eu não entendi e eu perguntei “o quê” e o padre disse "vai tirar o cera do ouvido”. E eu disse “posso ir embora?” e ele disse “vai, vai logo e reze vinte Ave-Marias”. E eu achei que ele nem tinha escutado o que eu disse e que ele que precisava tirar a cera do ouvido.
No dia seguinte eu botei o meu vestido branco e eu não comi nadinha, nem bebi água, e nem escovei os dentes, de medo de engolir uma aguinha.
E eu estava morrendo de medo, que todo mundo tinha dito que se a gente mordesse a hóstia saía sangue.
A igreja cheirava a lírio, que é um cheiro que até hoje eu acho enjoado.
As meninas e os meninos que iam fazer primeira comunhão ficavam lá na frente, nos primeiros bancos e davam pra gente uma vela pra segurar.
O padre foi rezando uma missa comprida que não acabava mais e às tantas chegou a hora da gente comungar e as meninas foram saindo dos bancos e foram indo lá pra frente e ajoelhando num degrau que tem perto de uma grade.
E o padre veio vindo com uma taça dourada na mão e ele tirava a hóstia lá de dentro e ia dando uma por uma para cada menina e menino.
Aí chegou a minha vez e abri bem a boca e fechei os olhos que nem eu vi as outras crianças fazerem e o padre botou a hóstia na minha língua. Eu não sabia o que fazer, que morder não podia e a minha boca estava sequinha e a hóstia grudou no céu da boca eu empurrava com a língua e não desgrudava e enquanto isso eu tinha que levantar e voltar pro meu lugar que já tinha gente atrás de mim querendo ajoelhar.
E eu nem aprestei atenção e tropecei no vestido da Carminha e levei o maior tombo da minha vida.
É claro que eu fiquei morrendo de vergonha e eu levantei e nem prestei atenção se eu tinha machucado o joelho. O que estava me preocupando mesmo é que eu tinha dado a maior mordida na hóstia.
Eu estava sentindo tudo que é gosto na boca, que devia de estar saindo sangue da hóstia, mas não tinha coragem de pegar pra olhar.
Aí eu pensei assim: “se eu não olhar se saiu sangue agora, nunca mais na minha vida eu vou saber se é verdade essa história”.
Aí eu meti o dedo na boca e tirei um pedaço da hóstia, meio amassado, meio molhado. E estava branquinho que nem tinha entrado.
E foi assim que eu aprendi que quando as pessoas falam pra gente coisas que parecem besteira não é pra acreditar, que tem muita gente besta neste mundo!


Fábulas fabulosas – O nascer do Capitalismo (à Maneira dos … Americanos)?

Um homem tinha uma fazenda perto de um rio. Certo dia, o rio começou a subir e ele percebeu que sua fazenda ia ficar submersa.

Transferiu toda sua família e todo seu gado e todos seus utensilios e móveis para o alto da montanha mais próxima. Havia, na sua fazenda, exatamente 284 km de cerca de arame farpado. Era um arame de sete farpas por metro, num total de sete mil farpas por quilômetro e, portanto, toda cerca somava 1.988.000 farpas. O homem arranjou um empregado e, sem comer nem dormir, colocou em cada uma dessas farpas um pedacinho de carne, uma isca qualquer. Quando terminou, ele e o empregado mal tiveram tempo de subir a montanha. Veio o dilúvio.

Durante 93 horas choveu ininterruptamente. Durante 96 horas o rio esteve três metros acima da cerca. Mas logo as águas cederam, e rapidamente o rio voltou ao normal. O homem desceu e examinou a cerca. Encontrou, maravilhado, um peixe pendente de cada farpa, exceto três. Ou seja, um total de 1.981.997 peixes. Havia tainhas, e havia robalos, corvinas, namorados, galos e muitas outras spécies que ele nunca vira(1). Cada peixe pesava, em média 250 g, de modo que o homem tinha um total de 496.999.250 g de peixe fresco, ou seja, 496.999 kg. de peixe. Isso tudo, vendido a 10 cruzeiros o quilo, vocês façam a conta e …

Ah, naturalmente o empregado foi despedido, porque colocou mal as iscas nas três farpas que faltaram.

Moral: O operariado deve ter o máximo cuidado com as iscas do Capitalismo.


Árvore Genealógica



-        Mãe, vou casar! 
-        Jura, meu filho ?! Estou tão feliz! Quem é a moça? 
-        Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Júlio. 
-        Você falou Júlio... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico? 
-        Eu falei Júlio. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa? 
-        Nada, não... Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo. 
-        Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo... 
-        Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Só isso. 
-        Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. 
-        Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea...
-        E quando eu vou conhecer o meu. A minha... O Júlio? 
-        Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido. 
-        Tá! Biscoito... Já gostei dele. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui? 
-        Por quê? 
-        Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência. 
-        Você acha que o Papai não vai aceitar? 
-        Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metade com bigode. 
-        Mãe, que besteira ... Hoje em dia ... Praticamente todos os meus amigos são gays. 
-        Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã. 
-        A Bel já tá namorando. 
-        A Bel? Namorando ?! Ela não me falou nada... Quem é o felizardo? 
-        Uma tal de Veruska. 
-        Como? 
-        Veruska... 
-        Ah! bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska. 
-        Mãe!!! !!!... 
-        Tá. Tá..., tudo bem...Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
-        Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozoides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada? 
-        Quando ele era hétero... A Veruska. 
-        Que Veruska? 
-        Namorada da Bel.... 
-        "Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também. Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco... 
-        É isso. Pois é.... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero. 
-        De quem? 
-        Da Bel. 
-        Mas. Logo da Bel ?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozoide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska. 
-        Isso. 
-        Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel. 
-        Em termos... 
-        A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel. 
-        Por aí... 
-        Por outro lado, a Bel...., além de mãe, é tia…. Ou tio... Porque é tua irmã. 
-        Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozoide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska...
-        Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar. 
-        Só trocar, né? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska. 
-        Exato! 
-        Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi... 
-        Entendeu o quê? 
-        Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos! 
-        Que swing, mãe ?!!.... 
-        É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozoides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra... 
-        Mas... 
-        Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio. 
-        A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso... 
-        Sei !!! ... E quando elas quiserem ter filhos... 
-        Nós ajudamos. 
-        Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozoide... A única coisa que eu entendi é que... 
-        Que...? 
-        Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser foda. 

Luiz Fernando Veríssimo



Anacleto, um sujeito quase completo...

Anacleto era um sujeito quase completo
Ele sabia de quase tudo...
Fazia quase tudo certo.
Ninguém fazia contas tão bem quanto Anacleto.
Ele não se atrapalhava com os números,
nunca errava as somas.
Anacleto era o melhor aluno da escola,
o corredor mais rápido da rua
e também um craque de bola.
Anacleto fazia piruetas na bicicleta,
nadava como um peixe...
E era radical no skate.
Anacleto era um verdadeiro atleta.
Anacleto andava sempre arrumado, camisa limpinha, sapato engraxado,
cabelo penteado, nariz sem meleca.
A Mônica, a Bia e a Teca, ele já tinha namorado.
Anacleto falava bonito.
Conhecia palavras como EXATAMENTE
e IMPRESSIONANTE.
Era realmente um sujeito brilhante.
Anacleto sabia o triplo de cinco,
sabia o que provocava relâmpagos e de onde vêm os bebês.
Sabia até o que é ORNITORRINCO.
Mas, apesar de tão esperto,
era um sujeito quase completo.
Sabem por quê?
Anacleto não sabia de tudo não:
ele não sabia fazer bolinha de sabão...

CISALPINO, Murilo; TEIXEIRA, Zeflavio. Anacleto, um sujeito quase completo.


TRAIÇÃO DE MINEIRO

O amigo chega pro Carzeduardo e fala:
- Carzeduardo, sua muié tá te traino co Arcide.
- Magina !!! Ela num trai eu não. Cê tá inganado, sô.
- Carzeduardo !!! Toda veiz que ocê sai pra trabaiá, o Arcide vai pra sua casa e prega ferro nela.
- Duvido !!! Ele num teria corage.
- Mais teve !!! Pode cunfiri.
Indignado com o que o amigo diz, o Carzeduardo finge que sai de casa, sesconde dentro do guarda-roupa e fica olhando pela fresta da porta.
Logo vê sua mulher levando o Arcide para dentro do quarto pra começar a sacanage.
Mais tarde, ele encontra com o amigo, que lhe pergunta o que houve.
E então, o Carzeduardo relata cabisbaixo:
- Foi terrive di vê !!!... Ele jogou ela na cama, tirou a brusa... E os peito caiu... Tirou a carcinha... E a barriga e a bunda dispencaro...
Tirou as meia... E apariceu aquelas varizaiada toda, as perna tudo cabiluda.
E eu dentro do guarda-roupa, cas mão no rosto, pensava: 'Ai... Qui vergonha que tô do Arcide!!!'





Charges: pra rir um pouco...








UMA DAS DE PEDRO MALASARTES


Um dia, Pedro Malasartes foi ter com o rei e lhe pediu três botijas de azeite, prometendo-lhe levar em troca três mulatas moças e bonitas. O rei aceitou o negócio. Pedro saiu e foi ter à casa de uma velha, ali pela noitinha; pediu-lhe um rancho, e que lhe botasse as botijas no poleiro das galinhas. A velha concordou com tudo. Alta noite, Pedro Malasartes levantou-se, foi de pontinha de pé ao poleiro, quebrou as botijas, derramou o azeite, lambuzando as galinhas. De manhã muito cedo Malasartes acordou a velha, e pediu-lhe as botijas de azeite. A velha foi buscá-las, e, achando-as quebradas, disse: "Pedro, as galinhas quebraram as botijas e derramaram o azeite".
– Não quero saber disso, - disse Pedro; - quero para aqui meu azeite, senão quero três galinhas.
A velha ficou com medo, deu-lhe as três galinhas. Malasartes partiu e foi à noite à casa de outra velha; pediu rancho e que agasalhasse aquelas três galinhas entre os perus. A velha, como tola, consentiu. Alta noite, Pedro se levantou, foi ao quintal, matou as três galinhas, besuntando de sangue os perus. No dia seguinte, bem cedo, acordou a velha, pedindo as suas galinhas, porque queria seguir viagem. A velha foi buscá-las e encontrou o destroço. Voltou aflita, contando a Malasartes.
Ele fez um grande barulho até levar seis perus em troca das galinhas. Na noite seguinte, foi ter à casa de um homem que tinha um chiqueiro de ovelhas, e pediu-lhe para passar a noite em sua casa e que lhe agasalhasse aqueles perus lá no chiqueiro das ovelhas, porque bicho com bicho se acomodavam bem. O homem assim fez.
Tarde da noite, Pedro foi ao lugar onde estavam os perus, e matou-os a todos, labreando de sangue as ovelhas. O homem, indo-os buscar, achou-os mortos, e voltou muito aflito, dizendo: "Pedro, não sabe, as ovelhas mataram os seus perus". Ouvindo isto, Malasartes fez um grande espalhafato, gritando que o homem tinha morto os perus do rei e recebeu seis ovelhas pelos perus. Largou-se, indo dormir na casa de um homem que tinha um curral de bois. Aí ele fez as mesmas artimanhas, até pegar seis bois pelas seis ovelhas.
Mais adiante, ele encontrou uns vendilhões de ouro e trocou os bois por ouro. Mais adiante encontrou uns homens que iam carregando uma rede com um defunto. Pedro perguntou quem era, diserram-lhe que era uma moça. Ele pediu para ir enterrá-la e eles deram.
Logo que os homens se ausentaram, ele tirou a moça da rede, encheu-a de bastante ouro e de enfeites, e foi ter com ela nas costas à casa de um homem rico que havia ali perto. Pediu rancho, disse às filhas do tal homem que aquela era a filha do rei que estava doente, e ele andava passeando com ela, e pediu que a fossem deitar.
Foram levar a moça para uma camarinha, indo Malasartes com ela, dizendo que só com ele ela se acomodava. Deitou a moça defunta na cama e retirou-se, dizendo às donas da casa: "Ela custa muito a dormir, ainda chora como se fosse uma criança; quando chorar, metam-lhe a correia."
Alta noite, Pedro foi e se escondeu debaixo da cama onde estava a moça e pôs-se a chorar como menino. As moças da casa, supondo ser a filha do rei, deram-lhe muito até ela se calar, que foi quando Pedro se calou. Depois ele escapuliu e foi para o seu quarto.
De manhã ele pediu a moça, que queria ir-se embora. Foram ver a filha do rei, e nada de a poderem acordar. Afinal conheceram que ela estava morta, e vieram dar parte a Malasartes. Ele pôs as mãos na cabeça dizendo: "Estou perdido; vou para a forca; me mataram a filha do rei!…"
Os donos da casa ficaram muito aflitos, e começaram a oferecer cousas pela moça, e Pedro sem querer aceitar nada, até que ele mesmo exigiu três mulatas das mais moças e bonitas. O homem rico as deu, e Pedro disse que dava uma desculpa ao rei sobre a morte de sua filha, e lhe dava de presente as três mulatas, para o rei não se agastar muito.
Malasartes largou-se e foi logo para o palácio, onde entregou o rei as três mulatas com este dito: "Eu não disse a vossa majestade que lhe dava três mulatas pelas três botijas de azeite? Aí estão elas". O rei ficou muito admirado.
Entrou por uma porta,
Saiu por outra;
Manda o rei, meu senhor,
Que me conte outra.

(In: ROMERO, Sílvio. Contos populares do Brasil)