terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A História de Sherazade

Há muito tempo, havia um rei muito rico e muito poderoso: chamava-se Sharyar.
Um dia este rei descobriu que a mulher dele, quando ele viajava, o traía. É claro que o rei ficou furioso! Estes reis antigos eram terríveis. Sharyar ficou com ódio das mulheres.
Então resolveu fazer assim: casava todo dia com uma mulher nova, e no dia seguinte mandava matar. Assim não tinha perigo de ele ser traído. Já não havia mais moça solteira naquele lugar. E as que tinham sobrado se escondiam muito bem, com muito medo.
O primeiro-ministro precisava arranjar todo dia uma noiva nova para o rei. Mas um dia ele voltou para casa muito aborrecido porque não conseguiu descobrir moça nenhuma! Este primeiro-ministro tinha uma filha chamada Sherazade, que era muito bonita e, o que é melhor, era muito inteligente.
Nesse dia, vendo que o pai estava apavorado, com muito medo, Sherazade se ofereceu para casar com o rei. O ministro não quis nem ouvir falar nisto. Mas Sherazade pediu, insistiu, dizendo que ia salvar o reino, que ia dar um jeito no tal Rei.
O pai da moça acabou deixando ela ir, porque na verdade ele também não sabia o que fazer. O rei quis logo abraçar a moça, mas viu que ela estava chorando. Isso já fazia parte dos planos de Sherazedo.
 - O que é que aconteceu? – o rei perguntou.
- É que eu tenho uma irmã pequena – respondeu Sherazade – e eu queria que ela viesse dormir comigo na minha última noite.
O rei mandou buscar a irmã, Dunyazade.
De madrugada, antes que o rei se levantasse, Dunyazade pediu a Sherazade que, pela última vez, lhe contasse uma história. Sherazade pediu licença ao rei para atender a irmã. Sherazade era uma contadora de histórias incrível. Quem ouvia suas histórias ficava encantado e queria que ela contasse outras histórias e outras mais.
E Sherazade começou a contar uma história muito interessante, e o próprio rei ficou fascinado com o que ela estava contando. Então o sol começou a nascer. Entre os árabes, esta é a hora de fazer orações. Sherazade parou a história no meio.
Não se sabe se o rei estava muito interessado na história ou se estava interessado na moça. A verdade é que ele permitiu que Sherazade ficasse viva só mais um dia, apenas para acabar a história.
Mas as histórias da moça eram longas, e dentro das histórias havia outras histórias, e dentro destas outras, outras mais, de maneira que a narrativa foi se alongando e durou… mil e uma noites, ao fim das quais o rei já estava apaixonado por Sherazade e não quis mais saber de matá-la e nem de matar mais ninguém. 

(Rocha, Ruth. Histórias das mil e uma noites. São Paulo: FTD,1991)

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