sábado, 31 de dezembro de 2016

Amor Eletrônico


SILVA, Shirlene Álvares da
Ele era um cara musculoso de 22 anos, com cabelos castanhos; ela era loira deslumbrante em corpete tomara-que-caia branco e calça jeans. O paulista Michel e a goiana Daila se conheceram quando assistiam à queima de fogos de artifício e tomavam água de coco no réveillon de 2010 no Rio de Janeiro. Não foi exatamente amor à primeira vista, mas, depois de reclamarem juntos dos altos impostos que tinham que pagar, a química ficou evidente, ela se mudou para a casa dele em Sampa, e em meados de novembro se casaram.
Parece conto de fadas? Mas, realmente, aconteceu – quer dizer, aconteceu no Second Life, mundo virtual criado pelos usuários da Internet. Michel e Daila são nicks, e o par tem pelo menos 10 anos a mais do que tem no jogo, onde os participantes aparecem com versões em desenho animado deles mesmos – chamado avatars – e se comunicam por meio de mensagens.
Daila e Michel acreditavam mesmo que o amor deles fosse verdadeiro. Do jogo, envolveram-se também através do MSN em mensagens diárias e duradouras. É que Jorge, nome verdadeiro de Michel, trabalhava em uma empresa em São Paulo, que cuidava de toda a produção de softwares de uma rede de supermercados, então, ficava horas em frente ao computador. E Lana, nome real de Daila, trabalhava em uma produtora de propagandas em Goiânia.
Eles começaram a viver um romance cibernético, os sentimentos de um pelo outro era intenso e eles se sentiam apaixonados. Teclavam todos os dias, quando acordavam, ao meio dia e no fim da tarde. Ao anoitecer, ela sempre deixava recadinhos de amor off line: “Eu te amo!”, “Estou apaixonada!”, “I love you!, “Sou louca por você!”, isto porque neste horário ele alegava que estaria na faculdade fazendo pesquisas com novos programas na área de informática.
As conversas entre os dois se intensificaram e cada um contava ao outro sobre tudo: trabalho, rotina diária, pensamentos e sonhos. Começaram a planejar como seriam seus encontros além do mundo virtual, já que ela morava em Goiânia e ele em São Paulo. A distância até os separavam de corpos, mas os pensamentos...
Nunca usaram webcam, utilizavam o skype e o MSN para conversar pelo microfone e Lana estava encantada pela voz de Jorge e vice-versa. Ela imaginava-o como na foto do perfil, um tipo entre Luciano Szafir e Thiago Lacerda.
Após três meses de relacionamento diário, Jorge deu uma notícia de presente a Lana:
- Olha, meu amor, tem um Congresso em Brasília de Produção de Softwares e será daqui 15 dias, como você está aí perto, vamos nos encontrar por lá!?
- Sério, meu bem? Ah, eu irei sim! Esta é nossa chance de nos conhecermos pessoalmente!
- É vamos sair do mundo virtual...
O encontro aconteceria em 15 dias e Lana começou a premeditar como seria o momento, pois em seu perfil havia colocado a foto de uma modelo, linda e esguia. E, na verdade, ela era gordinha, não era acadêmica do curso de publicidade como falara para o amado, trabalhava com vendas. Tinha cabelos ondulados e castanhos, bem diferente da loira fictícia.
A ansiedade tomou conta de seus dias. Sempre que falava com Jorge, mantinha-se muda e distante, o medo do encontro real a atormentava. Eis que teve uma ideia, pedir à prima Ângela que morava em Brasíla e era loira, como havia descrito em seu perfil, para que fosse em seu lugar ao encontro:
- Mas, Ângela é só um encontro. Você vai em meu lugar e depois continuo teclando com ele pelo msn.
- Lana, você é doida e como vou conversar com ele, se nem sei do que vocês conversavam.
Como Ângela era segura e, além de tudo aventureira, acabou aceitando, já que o cara era um gato, valia o esforço!
Lana disse que enviaria os arquivos de toda conversa, durante aqueles três meses, por e-mail, para que a prima lesse e pudesse situar-se sobre o relacionamento. Disse isso e se retraiu:
- Não. Vou fazer melhor: vou uns dias antes para sua casa e conto sobre tudo que conversamos, combinado?
- Combinado.
Lana achou melhor fazer assim, pois veio à mente as conversas íntimas dos dois. Como deixaria a prima ter conhecimento de tudo? De todas as declarações como as que Jorge fizera, seria exposição demais!
Em Brasília, combinaram tudo, inclusive a explicação que daria a Jorge o fato de não ser a mesma pessoa da foto. Achava que ele a perdoaria, pois a prima era um avião! Enquanto Lana tinha seus 31 anos, Ângela se adequava a idade de 22 anos, descrita por ela em seu perfil. Feito isto, a prima compareceria em seu lugar e tudo resolvido.
Jorge chegou à capital federal numa sexta, por volta das 22h. Ao instalar-se no hotel, teclou horas com Lana. Ele também estava excitado com o encontro. Lana postou a foto da prima no lugar da anterior e contou a verdade (entre aspas)!
- Tudo bem, minha linda! Tá perdoada! Eu também tenho algo a te dizer, mas prefiro pessoalmente.
Naquela noite nenhum dos três dormiram, pois até a Ângela estava ansiosa, parecia que ia fazer parte da cena de uma novela.
A hora do encontro chegou, era meio dia. O local escolhido: o restaurante do hotel em que ele estava hospedado. O combinado: ambos estariam de jeans e camiseta branca (tipo Hering).
Como contar o que aconteceu? Lana sentou-se numa mesa escondida ao fundo e viu o seu amor virtual entrar e sentar-se. Suspirou com a imagem projetada à sua frente, ele era realmente ele! O mesmo da foto... corpo, cabelo, sorriso! Quando a prima entrou, Lana não acreditou, pois se sentia na pele e n’alma de Ângela.
Então, viu no rosto de Jorge um sorriso de quem vislumbrava com o que via. Jorge e Ângela se entreolharam, abraçaram-se e se entregaram em um beijo ardente. Naquele instante, a moça desmoronou em pranto, cálido e de arrependimento pela situação que criara. Queria estar sendo beijada no lugar da prima. Jorge aparentava seus 30 anos era tudo que projetara em suas conversas, mas era mais que isso, era afetuoso, o que ela percebeu na forma como tratava Ângela.
Lana não teve forças para manter-se no local, quando saiu, Ângela viu-a partir, mas, ficou ali enebriada pela companhia de Jorge. Aquilo sim! Foi amor à primeira vista.
Jorge fez questão de dizer logo o que o afligia, segurando as mãos de Ângela contou-lhe a verdade:
- Meu amor, o que tenho que revelar a você é muito chato, porque eu omiti de você que sou casado, eu tenho um casal de filhos. Mas, quero que saiba que estou apaixonado, vou separar de minha esposa pra ficarmos juntos.
Ele ia falando e Ângela mudou todo seu semblante pensando na prima e nela mesma, que já estava apaixonada.
- Por que mentiu pra mim? E agora? Como vou ficar sem você?
- Mas vou me separar e te levar pra Sampa. Lá arrumarei um emprego pra você e ficaremos juntos!
Houve um silêncio! O garçom trouxe a conta e subiram pro quarto dele.
Passaram a tarde juntos!
Ângela aproveitou! Estava fascinada! sentiu um misto de culpa e também de felicidade, porque sentiu o calor da paixão invadir todo seu corpo, não sabia como explicaria tudo à prima, mas queria viver a tórrida paixão com Jorge. Afinal, quem está na chuva é pra se molhar e quem mandou a prima envolvê-la naquela história?
Ela não revelou a verdade a Jorge, deixou que Lana o fizesse na esperança de que reencontraria o amado com o aval da prima.
Dois dias depois, após tomar conhecimento dos fatos, Lana criou coragem, ficou on line para Jorge no MSN e contou-lhe toda verdade. Mostrou fotos reais dela, da prima e até deu seu endereço do Orkut para que ele conhecesse todo seu perfil real. Jorge ficou frustrado e deletou-a. Não conseguiu ter contato com Ângela, que ficou em sua memória.
E o que restou a Lana foi escrever em seu status no Second Life:
Relacionamento: sem namorado!
21/04/2011

Na fazenda, em Jaraguá

Sobre mim

Eu cheia de mistérios
trancada nas palavras
fechadas no livro
quando foleio as páginas
há nelas
uma multiplicidade de mim
com a euforia de viver
de encontrar o amanhã
e descobrir que o futuro
é só um rascunho
passado a limpo...
E O FUTURO É ASSIM: concretizar sonhos planejados... então, que nos próximos dias, semanas, meses... todos meus amigos possam realizar seus planos rascunhados no pensamento... a vida não muda em horas, ou pela mudança automática do ponteiro no relógio, pra ter movimento a vida, precisamos de ATITUDE.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Por Cintia Duarte Montilla



Esconde esse absorvente
Essas espinhas
Arranca esses pelos
Da um jeito nesse seu cabelo duro
Mal cuidada

Porca

Feche esse sorriso
Sua mãe não te ensinou 
Sobre o perigo de andar sorrindo na rua?
Abaixa essa cabeça
Para de encarar
Você esta chamando atenção
Assim vão achar que você esta dando mole

Delicia
Gostosa
Oh la em casa
Fecha essa boca e não reclama
Saiu de casa de saia curta
Camisa decotada
Maquiagem
Sem um homem
Tem que aguentar

Como assim não sabe cozinhar?
Você é mulher
Tem que cuidar do lar
Como assim não quer engravidar?
Você é mulher
Tem que engravidar

Faculdade? Viagem?
Mas você é mãe
Tem que cuidar
Abriu as pernas, agora não adianta
Largar na creche 
Irresponsável

Mãe solteira? 
O pai foi embora? 
Não sabe quem é o pai?
Transou sem camisinha
Vai ter que aguentar
Vadia

Esse roxo ai
Tenho certeza que apanhou 
Que teu marido te bateu
Mas você mereceu
Provocou ele
Você sabe que não pode se levantar
Mulher tem que ser submissa
O homem é que comanda o lar

Ah, mas que criança linda
É uma menina? 
Toma aqui esse vestidinho rosa
Essa coberta de florzinhas
Pinta o quarto de rosa
Um rosa bem bonito
Porquê mulher é monocromática durante a infância

Ih, chegou a menarca
Essa vai dar trabalho
Ensina pra ela a se valorizar
Mulher tem que se dar ao respeito
Fala pra ela não deixar ninguém ver esse absorvente
Esse sangue sujo

Vai ter que começar a usar sutiã
Os mamilos estão aparecendo pela camisa
Que coisa horrível
Adolescente descuidada
A mãe dessa ai não ensinou nada

Foi estuprada?
Morreu no processo? 
Devia estar pedindo
Sem sutiã, andava sozinha
Aquele batom vermelho
Aquela bunda enorme
Não sabe que menina tem que ficar em casa?
Deu sorte pro azar

Não foi educada
A mãe era solteira
O pai estava é certo de ir embora
Se ela era assim com a filha, imagine com o marido

Não foi respeitada
Opressão? 
Imagine

Olha lá a mãe dela
Na beira do caixão 
Olhando pro rosto da filha
Sem cor, sem vida
Um futuro morto antes mesmo do nascimento
Filha de mãe solteira
Sem pai, sem respeito

Morreu tão jovem
Aos 17
Uma menina tão linda
Maldita sociedade
Espero que a mãe dela aprenda a lição
E não tenha mais filhos

Suicídio?
Mas ela poderia ter começado uma vida nova
Agora que tinha perdido a filha
Poderia terminar a faculdade
Arrumar um emprego
Mas era uma fraca
Era mulher
O destino, a vida, as possibilidades
As pessoas
Cavaram a cova e jogaram ela lá dentro

Vitimismo? Preconceito?
Abuso? Agressão?
Cala essa boca e vai lavar uma louça
Você tem uma delegacia só sua
Tem seus direitos
Não luta na vida
(Mas luta na rua)
Não morre na guerra
(Mas morre em casa)


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Fizemos amor

O unicórnio voador que sempre sonhei,
com patas aladas e dorso encantado,
voando em círculos de infinita dimensão,
vislumbrei na retina de seus olhos,
no absoluto momento de emoção.

Meu corpo sobre seu corpo,
numa sinfonia de movimentos,
garimpou em nossos sentimentos,
um misto de desejo e razão.

Você deusa encantada,
eu, entidade deusada.
Nos misturamos,
num universo de tesão.

Cabotinos de todas as realidades,
colhemos em nossos corpos o êxtase da amplidão.
De suas pálpebras cerradas,
como cancela encantada,
unicórneos, borboletas e estrelas,
invadiram minha existência.

De meus olhos, como ponte levadiça,
unindo o absoluto e o impávido,
a absoluta intercepção de todos os mundos.
Seu unicórnio perpassou minha ponte,
cruzou se nossos mundos.
Instantaneamente para a eternidade,
Amei você

Semi Gidrão

domingo, 18 de dezembro de 2016

Poemeto de Joara Reis

Tereza ama uma menina 
Que triste pra Tereza!
Não amar um menino!
Não ser assim,
enfeitada de laço...
Não ser aceita
em todo espaço!

Miguel quer ser mulher!
Que triste pra Miguel!
Ter que ser
o que não é!

Vai Miguel! TROCA DE SEXO!
Você merece ser
O que quiser!

Joara Reis
uma nordestina arretada