quarta-feira, 22 de junho de 2016

Lenda: O fantasma de Tereza Bicuda

Tereza Bicuda era uma moça de lábios grossos que lhe valeram o apelido de bicuda. Morava em Jaraguá, no Larguinho de Santana. Pessoa de maus bofes, tratava a mãe de forma absolutamente cruel: botava a velha para mendigar nas ruas, batia nela, humilhava. Um dia, chegou ao extremo da maldade e, diz o povo, colocou um freio de cavalo na bocada da genitora, montou, e nela andou montada à frente de todo o povo. Aquilo foi demais: a pobre mulher morreu mas, antes, excomungou a filha desnaturada.
No meio religioso e de extrema moralidade da antiga
Vila de Jaraguá, Tereza Bicuda era uma aberração social. Descrente, nunca visitava a igreja.
Quando era forçada a passar diante de alguma, virava o rosto e
praguejava baixinho. Trabalhava aos domingos. Pra que o povo visse que não respeitava as tradições eclesiásticas. Era a ofensa à consciência das velhas beatas, que diariamente frequentavam as igrejas e capelas de Jaraguá.
Um dia, Tereza Bicuda morreu.
Nem uma lágrima surgiu de algum olho cristão. Não merecia lágrimas nem piedade quem não soubera viver e não chamara o padre no seu último momento.
Era costume colonial enterrar os defuntos no corpo das igrejas. A
capelinha do Rosário, situada ao sopé de suave colina, sempre fora a depositária dos corpos pobres, que não podiam ter o luxo de serem enterrados dentro da matriz. Na capelinha do Rosário foi então enterrada Tereza Bicuda, sem cerimônia preliminar.
Por três noites consecutivas, ao soar da meia-noite, a população ouvia medrosa os gritos que soltava Tereza Bicuda pedindo que retirassem o seu corpo de dentro da capelinha. Ali não era o seu lugar na morte, como não fora em vida. À meia-noite em ponto, Tereza Bicuda saía do seu túmulo e percorria as ruas quietas da vila, gritando desesperadamente.
O terror gelava os que a ouviam. Daquela noite em diante, os notívagos viam sempre surgir lá no fim da rua um imenso vulto branco a correr, deixando cair das suas vestes sujas línguas de fogo, que enchiam o ar do cheiro desagradável de enxofre. Por onde passava, iam ficando os vestígios de seus pecados.
A grama queimada ou secava. Os animais traziam pelos sapecados.
O povo quis pôr um termo ao martírio que vinham sofrendo. E os homens mais corajosos da vila exumaram Tereza Bicuda e levaram seu corpo, já em vermes, para a serra de Jaraguá.
Ali, num lugar pedregoso o jogaram. Um forte cheiro de enxofre enchia o ar.
No local numa mais surgiu uma planta, mas também Tereza Bicuda não mais aterrorizou com seus gritos a pacata população jaraguaense.
Na Serra de Jaraguá existe ainda o local onde dizem que ela foi
enterrada, onde hoje há uma cruz de madeira. As pessoas dizem que lá possui um pé de caju assombrado e se você tentar pegar os frutos da árvore será atacado por um enxame de abelhas. Além disso, dizem também que nas noites de lua cheia se você tentar subir na Serra a própria Tereza Bicuda aparecerá pra você e lhe montará como ela fez com a sua mãe.

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