segunda-feira, 21 de julho de 2008

Nenhum a menos


Nenhum a Menos 
Gênero: Drama 
Ano de Lançamento: 1999 
Sinopse: Gao é o professor da Escola primária Shuiquan e precisa sair de licença para cuidar da mãe doente. Num lugar distante e pobre, a única pessoa que aceita substituir o professor é uma menino de 13 anos, Wei Minzhi. Como a evasão escolar é muito grande, Gao intrui Wei a não permitir que nenhum de seus alunos abandone o curso prometendo-lhe 10 yuans extras em seu pagamento. Perdida em meio às crianças, Wei faz de tudo para manter os alunos na escola, até que um garoto de 10 anos é obrigado a partir para a cidade em busca de trabalho. Para trazê-lo de volta, Wei inicia uma incansável jornada à procura de seu aluno na cidade grande. 

Assisti ao filme “Nenhum a menos” e brotou em mim certa indignação pelo sistema. Aliás, a coisa mais fácil é o sistema nos indignar! O filme conta uma história ocorrida na China, numa vila, povoado, no campo. Um professor de crianças do lugar tem que viajar, e ficará fora por um mês, então, o administrador do povoado, contrata professora uma substituta - uma menina de 13 anos. A garota não tem experiência nenhuma e só aceita o convite porque lhe prometem um pagamento pelo mês de trabalho. 
A realidade do lugar não é muito diferente do que acontece no 3º mundo: escola dilapidada, sem materiais escolares, espaço físico ínfimo, mobiliário caindo aos pedaços e o velho giz que passa a ter valor de melhor recurso didático, porque não dizer único! Pois, nem a saliva da professora poderia educar aquelas crianças, já que não tinha conhecimento para tanto. 
A narrativa flui em torno da atitude da professora em querer manter as crianças na escola, pois só receberá o pagamento se quando o professor voltar não tiver faltando nenhuma criança, ou seja, deverá entregar a turma com “nenhum a menos”, algo que não difere do nosso país atualmente. Estamos acompanhando ações do governo em manter as crianças na escola, nesta ação governamental estão intrínsecas duas vertentes de como isso pode ter objetivos diferentes: manter crianças nas escolas estabelece índices e parâmetros de dados estatísticos para “inglês ver”, por outro lado prega-se a política da “criança na escola”, mas será que estão lá de corpo e alma, ou só de corpo? 
O acesso ao conhecimento não é o objetivo principal, mas a manutenção dos dados numéricos que o governo não quer para o país, mas para ofertá-lo ao FMI. Na narrativa, um garoto foge, em busca de trabalho, pois o pai havia falecido, a mãe estava doente e ele precisava ajudar a família a pagar as dívidas. A professora começa sua luta em busca da criança, da ovelha desgarrada que fora para a cidade. Não tendo dinheiro nem para a passagem, as crianças trabalham carregando tijolos para juntar dinheiro o suficiente, no intuito de que a professora possa buscar o garoto de volta. A máxima do filme é a propaganda da Coca-Cola, as crianças estão com sede e a professora para em um mercado e compra 2 latas de Coca-Cola para que as crianças experimentem, pois nem ela conhecia o gosto. 
São 26 crianças e com a professora 27, todas tomam cada uma, um gole apenas, não saciam a sede, mas saboreiam o gosto do desconhecido, uma experiência nova... algo que professores deveriam levar todos os dias às suas salas de aula: experiências novas. 
 O ponto forte destacado no papel da professora se dá, quando, por causa da falta de dinheiro coloca as crianças para fazerem contas sobre quanto deverá ter para buscar o colega que está perdido na cidade. E a matemática parece fluir bem entre as crianças. A busca da professora tem final feliz, mas observamos sua falta de experiência em várias situações e sua sabedoria em outras. Ela consegue ao final entrar na TV local e, comovido com sua história, o administrador da TV, leva ao ar uma reportagem sobre educação e escolas das zonas rurais, e em entrevista ao vivo, a professora apela para encontrar a criança. 
O desfecho vai além do esperado, pois além de conseguir encontrar o aluno perdido, ela consegue comover a população que manda materiais escolares, dinheiro e vários recursos para a manutenção da escola. A metáfora do filme fica por conta do giz colorido, material nunca visto nem pela professora e nem pelas crianças. Então, a professora deixa as crianças escolherem uma cor de giz e irem ao quadro escrever uma palavra. A criança menor que ainda não sabe ler e escrever desenha somente uma flor. 
O filme faz-me lembrar das utopias vividas no magistério por conta da educação brasileira, quando sonhava em ter em salas de aulas crianças para serem educadas não pelas condições do filme e nem pelas vividas no nosso país em decorrência do Capitalismo ou da chamada Globalização. Não sonhava que as crianças tivessem que ser estatísticas de um mundo selvagem. “Nenhum a menos” deveria ser um desejo do coração de cada brasileiro e não uma obrigação jurídica e governamental do Ministério público, dos Conselhos Tutelares, das Bolsas Escolas, dos Salários Educação, etc, etc... Manter a criança na escola não deveria ser meio e sim, um fim.

Um comentário:

minha vida em arte disse...

Shi,
Este filme eu já vi e me emocionou de verdade.
Concordo em genero, numero e grau com voce quanto a educação no Brasil. Alem da consciência governamental, cabe a nós educadores tentarmos reverter esse processo, voce não acha? Espero por um futuro melhor na educação brasileira.
Abraço.