Todas as noites, as
mulheres se punham diante da televisão para ver as novelas. Os homens
cochilavam no sofá e a criançada brincava com os computadores. Ninguém tinha
tempo de olhar para o céu.
Sem platéia, as estrelas
decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. A Lua, solidária com as
amigas, aderiu ao protesto e também se escondeu.
Foi um fuzuê no mundo
inteiro. As galinhas, que dormiam com a estrela-d’alva, perderam o sono e
deixaram de botar ovos. As corujas pararam de piar. Os tatus não saíram mais
das tocas. Os grilos silenciaram. Os anjos da guarda, que desciam à noitinha
para ninar as crianças, perdiam-se no caminho. As damas da noite não abriram
mais suas pétalas. No escuro, o vento não enxergava nada e não sabia para onde
soprar. Os poetas caíram em desânimo e a produção de poesia imediatamente
cessou. Os agricultores ignoravam se era ou não a época certa para semear. As
marés, desorientadas, subiam e desciam à deriva.
Então, os homens
descobriram que aquilo tinha a ver com o sumiço das estrelas. Chamaram os
melhores astrônomos, mas eles não souberam explicar o ocorrido. Convocaram as
feiticeiras para resolver o assunto, elas fizeram lá suas mandingas, mas não
adiantou nada. A coisa estava realmente preta.
Até que, numa noite, um
homem saiu de casa e se pôs a contemplar o céu na escuridão. Lembrou que a mãe
lhe ensinara a posição do Cruzeiro do Sul. Outro se juntou a ele e recordou as
histórias de Lua cheia, quando aparecia o lobisomem. Um velho ouviu a conversa
dos dois e veio contar que, em criança, tinha visto o Cometa Halley. Apareceu
uma mulher e comentou que só cortava os cabelos na Lua minguante. Outra mulher
falou que, havia alguns anos, vira uma estrela cadente e fizera um pedido. O
marido ouviu-a e disse que o pedido era ter o amor dele para sempre. Outro
homem contou que lhe nascera uma verruga no dedo porque, quando garoto,
apontara para as Três-Marias. Aos poucos, as pessoas foram saindo de casa e
cada uma tinha sua história para contar sobre a Lua e as estrelas.
Quanto estavam todos na
rua olhando o céu vazio, as estrelas, que os observavam do fundo da noite,
apareceram de surpresa, acendendo-se ao mesmo tempo. Foi lindo: parecia uma
chuva de gotas prateadas. Em seguida, despontou a Lua, com seu brilho magnífico,
como um holofote.
Aí todos entenderam o
motivo daquela greve. E, imediatamente, decidiram em consenso: podiam ver
televisão, dormir no sofá e brincar com o computador todas as noites. Mas, de
vez em quando, iriam dar uma espiadinha no céu para ver o show das estrelas.
Conto de João A. Carrascoza. Ilustrado por Ivan Zigg
Nenhum comentário:
Postar um comentário