Histórias para serem lidas, contadas e imaginadas... Sou escritora de mim mesma, mãe de 3 lindos filhos sem ser galinha choca. Acredito na educação, porque em cada história contada ou cantada, renovo-me de fé, já que a palavra escrita encanta, emociona, diverte e faz da alma da gente um mundo mais vibrante e cheio de inventividades. O mundo real vira coincidência do mundo fantástico... em que magia vira realidade! Shi...
terça-feira, 2 de junho de 2009
Chupa essa manga, doutora!
Mirelle Araújo
Creuza é doméstica, torcedora do Vila Nova Esporte Clube. Ela possui um dilema e ao procurar uma psicóloga, ao invés de resolvê-lo, acaba por adquirir outros.
É no divã de sua psicanalista Laila Gutierrez que Creuza chora suas mágoas. Mas, um belo dia, Creuza resolve abandonar o tratamento:
- Boa tarde, Cleuza. Fique à vontade.
- Doutora, meu nome é Creuza. É Creuza. Posso ficar sentada hoje? Num vou deitar não! Sabe o quê que é? É que eu tô muito nervosa. Tô. Tô muito nervosa. É que hoje eu vim pra falar pra senhora que é meu último dia de terapia. Num vou fazer esse trem mais não! Neim. É que a senhora com esse negócio de terapia vai colocando umas caraminholas na cabeça da gente e pra falar a verdade tá me dando é prejuízo. É! Prejuízo.
- Prejuízo, Cleuza? Fale mais sobre isso.
- Doutora, eu já disse que meu nome é Creuza, É Creuza. Prejuízo né! No quesito de... de... de sexo. Vou falar né. A senhora disse que é pra falar tudo que der na telha aqui. É isso mesmo. Eu tô tendo prejuízo de sexo. É que a senhora falou que era pra tirar os meninos do quarto, né? Que os meninos não pudiam durmir com a gente, que não pudia durmir todo mundo junto, que senão os meninos pudiam cabá vendo a gente coisá e que dava pobrema lá. Pois é. Hoje em dia, era só o mais pequeno que durmia com a gente: o Jonascleisson. Eu fiz o que a senhora mandou. Tirei o menino do quarto. Jeitinho que a senhora mandou. Cabou. Cabou a festa. Nunca mais furunfamo lá em casa.
- Como assim, Cleuza?
- Ô doutora, meu nome é Creuza, eu já disse. Creuza. Ué! Como assim? Antes quando o Jonascleisson durmia dentro do quarto, não atrapalhava em nada, parece que nossa gemeção até que ninava o menino. Agora? Depois que entuchei ele no quarto dos irmão, do jeitinho que a senhora mandou, parece que o menino tem um RADAR, que é só o Cledsclei pô o time em campo que o diabo do menino desata a chorar e começa a latumia. Aí a senhora já viu, né! Aí eu tô fora da partida. Ó, tá pra um mês que não tem jogo lá em casa. Cledsclei só chega tarde, né. E agora embirrou comigo por causa do Raj.
- Raj? Que Raj?
- Que Raj? O Raj, ué. O Raj. O homem lá das Índia. Vai me dizer que a senhora num vê novela? Aff! O Raj. Ele é o garanhão da novela lá nas Índia. Eu vejo todo santo dia, né! Cabei, que cabei sonhando com ele de noite e o Cledsclei que tem bosta do sono muito leve, disse que acordou comigo gemendo.
- Gemendo?
- É. Gemendo. Assim: aí, Raj! ui, Raj! faz, Raj! E embirrou comigo. Embirrou! Olha pra senhora vê, eu não tenho culpa, doutora. Eu não tenho culpa, não senhora! Taí. Isso é coisa que fica no inconsciente da gente, do jeitinho que a senhora me explicou. É ideia que a gente não manda. E toda vez que eu vejo essa novela, aparece esse homem lambendo uma aqui, encoxando outra ali, é boca aqui, mão acolá. E eu nessa farta, quem guenta?
- Entendo!
- E esse homem também não é de Deus não! Ah, não é não, senhora! Agora Cledsclei disse que mesmo que o menino deixá a gente furunfá, se eu quiser me fartá é pra eu procurá o Raj. Ó pocevê! Humm! Chupa essa manga, doutora! Chupa. Ó, eu num venho aqui mais não! Hoje foi meu último dia.
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