segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Cegueira do Amor

Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da Terra.
Quando o aborrecimento havia reclamado pela terceira vez, a loucura, como sempre tão louca, lhe propôs.
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade sem poder conter-se perguntou:
- Esconde - esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a loucura, em que eu fecho meus olhos, conto até um milhão enquanto vocês se escondem, quando eu terminar de contar começo a procurá-los, e o primeiro que eu encontrar ocupa o meu lugar no jogo.
O entusiasmo dançou, seguido pela euforia. A alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a dúvida e até a apatia que nunca se interessavam por nada.
Mas, nem todos participaram; a verdade preferiu não se esconder.
- Pra quê se no final todos me descobrem? - pensou a verdade.
A soberba opinou que era um jogo muito tolo (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tinha sido dela) e a covardia preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três... começou a contar a loucura.
A primeira a se esconder foi a pressa que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra no caminho.
A subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da mais alta árvore.
A generosidade quase não conseguiu se esconder, pois, cada local que achava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos, ao contrário do egoísmo, que encontrou um ótimo lugar só para ele.
A mentira se escondeu no fundo do oceano (mentira! Foi atrás do arco-íris).
O esquecimento, não me lembro onde se escondeu.
Quando a loucura estava lá no 999.999, o amor ainda não havia achado lugar para se esconder, pois todos estavam ocupados. Até que encontrou um roseiral e decidiu ocultar-se entre as rosas.
- Um milhão! - terminou de contar a loucura e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois escutou a , discutindo com Deus sobre Zoologia.
Em um descuido encontrou a inveja e, claro, pôde deduzir onde estava o triunfo.
O egoísmo não precisou ser procurado, pois saiu correndo de seu esconderijo que era um ninho de vespas.
A dúvida foi mais fácil ainda, encontrou-a sentada em uma cerca sem decidir de que lado iria se esconder.
E assim foi encontrando a todos: o talento, nas ervas frescas; a angústia, em uma cova escura... apenas o amor não aparecia. Quando a loucura estava dando-se por vencida, encontrou um roseiral, pegou uma forquilha e começou a mover os ramos. No mesmo instante ouviu-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o amor nos olhos. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se, chorou, rezou, implorou e até prometeu ser seu guia.
Desde então, a amor é cego e a loucura sempre o acompanha.

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