quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 4 - PRESENTE DE NATAL Raquel chegou em casa animada com a entrevista na TV. Sua mãe havia assistido ao programa e gostou muito de ouvir Raquel falar: - Como você falou bonito, filha! - Sobre a importância de doar órgãos? - Sim. - O debate que houve na escola me ajudou. A professora está trabalhando esse tema nas aulas de ciências e pediu-me para relatar aos colegas a minha experiência. Falei sobre a sua doença e o quanto é difícil encontrar um doador compatível. Disse-lhes que, hoje, essa situação está acontecendo com a senhora, mas amanhã poderá ser com alguém da família deles, pois o câncer é uma doença terrível, traiçoeira, não escolhe cor, credo, idade ou classe social. Depois, pedi-lhes ajuda e coloquei o nome da comunidade do orkut no quadro negro, para que eles pudessem entrar e convidar outros participantes. De repente, um deles pode conseguir alguma informação sobre os Albuquerque e, então, daremos um fim a esse sofrimento. Dona Luiza abaixou a cabeça e disse tristemente: - Raquel, você ainda não viu. – E tirando o lenço da cabeça, mostrou a filha o cabelo que caía. Ambas se abraçaram e choraram. – Mais cedo, logo que você saiu, eu tive uma recaída e desmaiei, estou me sentindo fraca. Sua tia Zilda ligou para Rubens na esperança de vocês estarem juntos. Sinto-me fraca, Raquel, acho que não vou aguentar isso por muito tempo... Temos que encontrar seu irmão o mais rápido possível. - Mãe, fique calma! – e, pegando o lenço, colocou-o novamente na cabeça de dona Luiza. – Sinto que estamos perto de encontrá-lo, mãe. Raquel saiu do quarto em prantos, abraçou Rubens, que estava chegando e disse baixinho no seu ouvido: - Preciso encontrar o meu irmão, nem que seja a última coisa que eu faça. No outro dia, Rubens voltou à casa de Raquel. Quando estava saindo viu um saco cheio de latinhas encostado à parede. Não disse nada no momento, mas ficou desconfiado. E, pela primeira vez ligou para PC perguntando se ele sabia alguma coisa sobre isso. PC não sabia, mas disse que poderia falar com Raquel. Foi até a casa dela e, sem rodeios, perguntou-lhe: - Raquel, Rubens me ligou perguntando se eu sabia que você continua... - A catar latinhas? Sim, é verdade. É a única maneira de ajudar na casa, PC! Tenho que arrumar dinheiro de qualquer forma. E isso é melhor do que sair por aí pedindo esmolas. - Tudo bem, mas acho que você tem condições de encontrar um trabalho melhor. Tive uma ideia!!! Uma vez você me disse que suas notas no colégio são boas, certo? - Certo. E daí? - Sei como arrumar um outro trabalho para você. Quando PC disse isso, ela sorriu e quis saber o que deveria fazer. - É simples. Você só terá que preencher um cadastro nesses programas que o governo oferece para o primeiro emprego, e esperar ser chamada. - Ótima ideia! Vou fazer isso o mais rápido possível. Raquel se cadastrou e, passados alguns dias, foi chamada para trabalhar meio período em um órgão do governo. Ocupada com o trabalho, diminuiu os encontros com Rubens, o que o deixou chateado. Por outro lado, ela se empenhava cada vez mais para ajudar sua mãe. Gastou o seu primeiro salário com alimentação e remédios. O novo trabalho lhe proporcionava algumas vantagens, como acessar a internet. Todos os dias, entrava no seu e-mail e abria a caixa de mensagens. Depois de uma semana sem ver Rubens recebeu um e-mail: “Não sei o que está acontecendo, preciso muito falar com você. Por que se afastou de mim? Sei que está trabalhando e não tem muito tempo, mas me ligue. Se gosta de mim, não me deixe sem saber de você.” Beijos! Rubens Após ler o e-mail Raquel ficou confusa. Não sabia o que sentia por ele, mas tinha certeza do que aquela mensagem representava para ela naquele momento. Raquel, Rubens e PC entravam todos os dias no site "QUEM PROCURA, ACHA" em busca de pistas sobre o paradeiro de seu irmão e também à espera de um doador. No site eles haviam anunciado sobre o irmão de Raquel e sobre a necessidade da mãe. Era uma luta contra o tempo! A cada manhã, renovavam-se as esperanças e eles se animavam com as postagens na comunidade “PELA VIDA DE MINHA MÃE” e nas pistas recebidas no endereço eletrônico de Raquel. No trabalho, Raquel entrou no site onde encontrou duas pistas sobre o paradeiro de seu irmão. Nas mensagens estava escrito: “Olá, meu nome é Beatriz Fonseca e moro na Cidade Jardim. O casal José Paulo e Rita Albuquerque foram meus vizinhos, mas mudaram-se daqui, no ano passado. O menino que vocês estão procurando se chama Henrique Albuquerque, ele tem 18 anos, nós éramos muito amigos até eles irem embora. Brincávamos juntos quando éramos menores.” “Oi. Sou Eduardo Silva e moro no Setor Coimbra. Conheço quem vocês estão procurando. Há muito tempo minha família é amiga da família Albuquerque. Conheço o filho deles. Henrique era meu melhor amigo. Estudamos juntos por três anos. Tem um ano que não o vejo, mas posso ajudá-la a encontrá-lo. Espero sua resposta pelo meu e-mail.” “Voltem ao antigo endereço dos Albuquerque e procurem na redondeza, nos vizinhos e parentes. Assinado: detetive de plantão.” Essas informações animaram Raquel que, rapidamente, ligou para os amigos. Pensou no quanto foram inocentes em não procurar a vizinhança e os parentes dos Albuquerque que a mãe, possivelmente, conhecia. Chegou em casa com Rubens e PC. Foi até o quarto onde estava sua mãe, acordou-a com entusiasmo e procurou animá-la para a busca desse dia. A mãe estava muito fraca, mal podia se levantar. Raquel não desistiu, partiu juntamente com os rapazes, deixando-a repousar. Passaram o fim da tarde procurando por essas pessoas. Um dos antigos vizinhos disse à Raquel que os Albuquerque haviam se mudado para Minas Gerais, que tinha lembrança somente da irmã de dona Rita, que morava no setor Bueno, cujo endereço desconhecia. A irmã, Rosana Almeida, era dona de uma loja no shopping. Já era tarde quando voltaram para casa. Dona Luiza confirmou o nome da irmã da antiga patroa. Durante a noite, dona Luiza passou mal. Raquel ficou de vigília e na manhã seguinte foi para a aula com o rosto pálido, olheiras e a auto-estima baixa. Isso era visível! Os professores, que já conheciam o problema, procuraram respeitar o seu silêncio. Sem contar nada aos amigos, Rubens foi até o shopping indicado pelo antigo vizinho dos Albuquerque, onde ficava a loja de dona Rosana. Encontrou a loja, mas Rosana havia viajado para São Paulo. Rubens não fez mais perguntas e disse que voltaria depois. Antes de dar a notícia a Raquel, resolveu procurar no catálogo telefônico por pessoas com sobrenome Almeida, pois poderia ser o sobrenome de solteira de dona Rita Albuquerque. Depois de muito procurar, pois a relação era enorme, encontrou uma pista: Renata Almeida. Anotou o endereço e foi até sua casa. A moça, que era prima de Rosana Almeida, havia falecido, fazia dois anos. Quando Rubens contou a Raquel, ela quis jogar tudo para o alto e desistir, mas os amigos não a deixaram esmorecer. No site “QUEM PROCURA, ACHA” havia a mensagem de uma mulher chamada Cecília dizendo ser vizinha dos Albuquerque. E mais: que eles moravam no setor Jardim América. Havia mais de um mês que Raquel e a mãe estavam em Goiânia. O Natal se aproximava com suas cores e luzes. Raquel continuava estudando, trabalhando muito e procurando pelo irmão. Dona Luiza já bem debilitada: estava muito magrinha e, com apenas alguns fios de cabelo, que insistiam em nascer entre uma e outra sessão de quimioterapia. Doutor Renato, juntamente com o doutor Gouveia concluíram que dona Luiza tinha poucos meses de vida. Raquel foi ao apartamento de PC e lhe contou sobre a descoberta de Rubens. PC deu a ideia de pedir o número do celular da senhora Rosana. Foram ao shopping e contaram a história para a gerente que, muito feliz, fez a ligação para a patroa. Infelizmente, a chamada foi encaminhada para a caixa postal. A gerente, muito simpática e prestativa, acalmou os dois, dizendo que antes do Natal dona Rosana estaria de volta a Goiânia, provavelmente no dia 22 de dezembro. No dia 21, Raquel ainda sem qualquer notícia, sentiu que sua mãe definhava a olhos vistos. Rubens convidou mãe e filha pra passarem o Natal em sua casa. PC fez o mesmo. Raquel agradeceu os dois convites, preferindo ficar em casa: “Por que vocês não vêm passar o Natal conosco?” O convite foi aceito pelos dois amigos. A senhora Rosana só chegaria no dia 23. Por causa dos movimentos dos aeroportos, não encontrara passagens para o dia anterior. Ruas, avenidas, praças, lojas e shoppings exibiam seu brilho e seus enfeites natalinos. Luzes coloridas inundavam a cidade convidando à alegria e esperança. Mas, o coração de Raquel estava completamente triste. Ela só desejava encontrar seu irmão, ou um doador compatível para sua mãe. Dona Luiza já nem conseguia se levantar da cama. Tinha momentos de delírio. Raquel chorou, chorou todas as lágrimas, quietinha, e orou pedindo a Deus que o seu desejo fosse atendido. Antes que o avião aterrissasse, Raquel e os dois amigos inseparáveis já estavam no aeroporto Santa Genoveva. O avião estava atrasado. A gerente da loja de dona Rosana havia descrito como ela era. E foi por telefone que Raquel soube o horário em que ela chegaria. Eram quase 18h quando o avião aterrissou. A senhora Rosana saiu da sala de desembarque com dois carrinhos cheios de bagagens. Raquel se aproximou: - Boa tarde! A senhora é a dona Rosana Almeida? - Sim, sou eu. Em que posso ajudá-la? - Gostaria de conversar com a senhora por alguns minutos, se possível. Dona Rosana era uma mulher simpática e concedeu esse tempo a Raquel, que lhe apresentou os amigos. Sentaram-se em uma lanchonete do aeroporto e Raquel contou-lhe a história. A senhora ficou perplexa com a notícia de que seu sobrinho era filho de dona Luiza de quem se lembrava bem. Refazendo-se do choque, Rosana contou que Henrique estava na Europa, num projeto de intercâmbio do curso de inglês, mas que chegaria após o Natal, antes do Ano Novo. Raquel com muitas reticências quis saber de dona Rosana se era possível contar com sua ajuda. Ela disse que sim e que gostaria de passar em casa, deixar as bagagens e ir ver dona Luiza. O encontro foi um Presente de Natal... Ao ver Rosana, dona Luiza instantaneamente, reagiu à falta de ânimo. Agora sabia que o encontro com o filho estava por vir. As duas conversaram por uma hora. Dona Rosana era sensível e deixou algumas lágrimas rolarem na face. Sabia o quanto dona Luiza precisava desse reencontro, mas o quanto sua irmã sofreria com a revelação de que seu filho adotivo era filho legítimo de seu marido com a doméstica. Além de sentir na pele a traição, a revelação da mãe biológica traria à tona uma verdade nunca dita: José Paulo, Rita e Henrique teriam as suas vidas reviradas.

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