quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 9 - Doar ou não doar? Eis a questão... Embora Luiza estivesse mais disposta, a doença estava avançando em seu organismo. Raquel não desistia, todos os dias, pedia a Deus que não deixasse sua mãe morrer e que Henrique a aceitasse como mãe. Continuava a divulgar sua campanha em prol da mãe. Mas, o trabalho roubava parte do seu dia. Rubens dava toda a atenção que ela precisava para se sentir fortalecida. Rita ficou o fim de semana na fazenda, tentando se refazer da decepção que tivera com o marido. Três dias foram poucos para esquecer. Voltou da fazenda, ainda com mágoa e ressentimentos, mas decidida que perdoaria o marido. Afinal, 22 anos de casamento não poderiam ser desconsiderados. Os filhos preferiram não falar do assunto e muito menos comentar sobre Raquel ou dona Luiza na frente de dona Rita, tentando evitar desgastes e emoções. Numa manhã, quando Henrique saía de casa, dona Rita perguntou-lhe sobre Luiza. Ele voltou, abraçou a mãe e disse-lhe que ela estava muito preocupada, pois já estava sabendo do que acontecera. Dona Rita perguntou: - E o que ela disse? - Mãe, ela se sente culpada pelo seu sofrimento. Disse-me que nunca teve a pretensão de voltar e contar a verdade sobre mim, mas que a doença acabou mudando o rumo da vida delas, pois Raquel descobriu parte desta história, que ela não teve como continuar escondendo. - Mas, então, vieram para Goiânia só porque estava doente e queria que você a salvasse? - Não só por isso. Raquel contou-me que, além de precisar de um transplante e considerar a hipótese de eu ser compatível, ela achava que a doença fora provocada por remorso do que fez, por ter me abandonado. Na cabeça dela, Deus estava cobrando-lhe que revelasse a verdade; só assim ela teria paz de espírito. - Embora eu esteja magoada, meu filho, acredito nisso. – Rita concluiu a conversa, beijando o filho. As lágrimas rolaram em sua face. Henrique despediu-se da mãe e saiu. Quando Rita entrou em casa o telefone tocou. Era do Banco de Medula e a atendente informava-lhe que o resultado do exame estava pronto, que ela era compatível com uma paciente de Goiânia e que poderia, caso desejasse, ser sua doadora. Rita não perguntou sobre a paciente, mas comprometeu-se a passar na clínica para buscar os resultados. Agora, eram mãe e filho doadores compatíveis e com possibilidades de “fazerem o bem, sem olharem a quem”. Henrique já havia concordado em viajar para São Paulo, a fim de fazer o transplante que salvaria a vida de Jefferson Paiva, um jovem de 25 anos com a mesma doença de dona Luiza. O rapaz se comprometeu em arcar com as despesas da viagem de Henrique, já que o seu estado de saúde o impossibilitava de viajar até Goiânia. Rita foi à clínica buscar o resultado que lhe foi entregue pelo doutor Renato. Ficou em choque quando soube que sua receptora seria “Luiza Silva, paciente em estado avançado de Leucemia, sangue O+, 46 anos de idade, residente em Goiânia - fazia parte das regras internas do Banco de Medula esclarecer dúvidas sobre os procedimentos do transplante, e informar sobre o perfil do receptor, caso o doador fosse compatível. Doutor Renato que sabia do relacionamento das duas, esperava que a reação dela fosse de felicidade pela descoberta, mas não foi o que aconteceu. - Como, doutor? Eu? Doadora para salvar a vida dela? Isso não é possível! Deus quer me testar. Um misto de raiva e compaixão invadiu os pensamentos de Rita. Ela chorava e o doutor Renato tentou acalmá-la. - O que está acontecendo? - Doutor, o senhor ainda não sabe parte da história. Lembra-se de que a Luiza estava com esperanças de que o Henrique, que na verdade é filho biológico dela, fosse o doador compatível? - Sim. - Então, esta semana fiquei sabendo do resto da história: meu marido traiu-me e dessa traição nasceu o Henrique, que ela acabou abandonando na porta de minha casa, pois não tinha como criá-lo. Mas, amo meu filho e sou capaz de dar minha vida por ele, mesmo que não tenha saído de meu ventre. - Dona Rita, eu não tenho palavras e não vou julgar os erros de seu marido e nem de minha paciente. O que está em jogo é a vida de uma mulher que já sofreu muito. Ela envolveu-se com seu marido e dessa relação nasceu seu filho. Você o criou, deu-lhe amor, educação, saúde, enfim, é a mãe do garoto. Em compensação, ela conviveu com a ausência do filho por 18 anos. Mesmo que Henrique considere dona Luiza como mãe, não vai amá-la como ama a senhora, pois o que une as pessoas, a família é o amor, o respeito mútuo, a convivência, e isso, foram vocês que deram a ele. - Mas, doutor... - Escute-me, independente de quem seja a receptora, o que importa, neste momento, é a sua decisão em relação à vida dela. Observe que você deu uma formação a seu filho que logo se prontificou a ser o doador daquele jovem de São Paulo. Como a senhora vai justificar, caso decida por não ajudar a mulher que deu a vida a ele e, ainda, proporcionou-lhe criá-lo? Pense nisso, decida-se e me ligue! Não vou disponibilizar essa informação, enquanto a senhora não se decidir. - Faça isso, doutor. Preciso desse tempo. Dona Rita estava confusa. Precisava conversar. Passou no Shopping e desabafou com a irmã. Ela a aconselhou que fizesse o que o coração mandasse. - Rita, você é quem decide, mas no seu lugar, eu não pensaria duas vezes. Pense no Henrique e na própria Luiza. Você conseguiria dormir em paz o resto de sua vida, se ela morresse? – Dona Rosana foi firme e coerente. - Credo, Rosana! Não fale isso nem de brincadeira. - Então, decida-se pelo bem! Ao chegar em casa, Rita encontrou Henrique no quarto acessando os sites da campanha em prol de dona Luiza. A mãe ficou observando e perguntou: - Tem visto a Luiza e a Raquel, Henrique? - Sim, mãe. Hoje estarei com a Raquel, fiquei de olhar os sites e de passar no Banco de Medula mais tarde, para ver se temos notícias. Neste momento, Rita estremeceu, mas sabia que o doutor Renato não contaria nada. E não contou mesmo. Uma semana depois, dona Luiza teve uma crise, as quimioterapias já não estavam adiantando mais. Necessitava urgentemente do transplante. Doutor Renato conversou com o doutor Marcílio e decidiram que internariam dona Luiza, mas antes preferiram conversar com dona Rita. Ela havia conversado com o padre de sua igreja que a aconselhou a contar, primeiramente, ao marido sobre seu dilema. Ele poderia ajudá-la, afinal, os dois tinham uma história de cumplicidade e companheirismo. Naquela noite conversaram muito. Rita contou a José Paulo que poderia ser a doadora de Luiza, mas estava indecisa. O marido não hesitou em dar sua opinião a favor do transplante, Rita o perdoou e resolveu que faria, sim, a doação a Luiza. Na manhã seguinte, o telefone tocou logo cedo, era doutor Renato. Dona Rita nem o deixou falar. Disse-lhe que faria a doação, mas queria ser, ela própria, a dar a notícia para todos. Ele consentiu. Rita combinou uma visita à casa de Luiza com Henrique e Marina. José Paulo achou melhor não ir. Naquela tarde, Raquel não foi trabalhar para esperá-los. Ela vivia momentos estressantes, pois sabia do conflito vivido por dona Rita com a descoberta da traição do marido e da paternidade de Henrique. Mesmo assim não desanimava, sempre encontrava força e coragem, sua determinação era incrível! Sentia que tudo daria certo. O otimismo invadia sua alma. O quarto de Luiza era pequeno, mas acomodou todos os presentes: Raquel, Rita, Marina, Henrique, Rosana e a tia Zilda. Rita pediu muito silêncio e disse: - Luiza, eu vim aqui para trazer-lhe boas notícias. Você sabe que José Paulo contou-me toda a verdade? - Sei, sim, e peço-lhe perdão! - Calma, escute-me! Você já está perdoada. Eu quero esquecer este episódio e sei que só não o esquecerei totalmente por causa de Henrique: um presente de Deus. Amo meu filho e sei que não foi por falta de amor que você abriu mão de criá-lo. Ele agora tem duas mães. Eu e meu marido conversamos muito esta noite, eu entendo que Deus tinha um propósito para nossas vidas e ainda o tem. Henrique segurou a mão de Raquel e os dois se apoiaram. - Antes da minha conversa com José Paulo sobre a paternidade de Henrique, fui até o Banco de Medula, sensibilizada com a atitude do meu filho em ser doador, e fiz os exames. Logo em seguida José Paulo revelou-me que era o pai de Henrique, aí o mundo desabou sobre mim. Eu fiquei muito chateada e fui para a fazenda refletir. Quando voltei, doutor Renato chamou-me à clínica para contar sobre o resultado dos exames. Na hora não pude acreditar! Como não acredito até agora. - Fale logo, mãe! – Interrompeu Henrique. - O resultado do exame acusou compatibilidade do meu sangue com uma paciente aqui em Goiânia, e essa paciente é você, Luiza! – Rita disse isto calmamente, enquanto os outro já estavam em prantos. As lágrimas eram de felicidade! Raquel levantou-se e abraçou dona Rita. - Nem acredito! Isso é um milagre! – Raquel estava emocionada. Dona Luiza ficou sem palavras. - Luiza, eu não esperava ser compatível. Mas, por obra de Deus, estou aqui e vou ser doadora para tentar salvar a vida da mãe de meu filho. Quero vê-la de pé e saudável. O Doutor Renato marcará o transplante. Tia Zilda levantou-se e, humildemente, agradeceu dona Rita. Mal a visita terminou, Raquel telefonou para todos os amigos. Rubens foi o primeiro da lista. A felicidade da menina era visível, seu rosto estampava uma alegria contagiante. Dona Rita, Rosana e Marina foram embora. O filho ficou para curtir a alegria com Luiza e Raquel, ele também estava muito feliz. Aquela tarde foi de êxtase puríssimo! Henrique e Raquel marcaram com os amigos de se encontrarem no final da tarde para contar-lhes a novidade. Resolveram ir ao cinema no shopping. Era a primeira vez que Raquel respirava aliviada. E, agora não eram mais seis amigos partilhando momentos agradáveis. Eram três casais de namorados: Paulo César e Carolina, Rubens e Raquel, e como era de se esperar, Ana e Henrique, que trocaram o primeiro beijo, assistindo a um filme romântico, depois lancharam e se permitiram sentar numa praça descontraidamente. Formavam agora, três belos e jovens casais de namorados. O dia do transplante chegou. O relógio parecia estar de mal com Raquel, batia lentamente e as horas não passavam, contrariando a ansiedade de todos. Na sala de espera não faltou ninguém: Raquel e Henrique ficaram juntos o tempo todo, Rubens e Ana apoiavam os irmãos, José Paulo e Marina oravam por Rita e por dona Luiza. Dona Rosana, tia Zilda, Márcio, Paulo César e Carolina também não deixaram de pedir a Deus pelas vidas de Luiza e Rita. Terminada a intervenção cirúrgica, doutor Renato e doutor Marcílio, que tinham tornado-se uma dupla por afinidade, foram dar a notícia: - Correu tudo bem. Agora, é aguardar a recuperação de ambas. - Doutor, minha mãe está curada? – Perguntou Raquel. - Somente no pós-operatório e com novos exames saberemos os resultados. Em alguns casos o transplante cura, em outros casos há reincidência. Não acreditamos que isso aconteça com a sua mãe. No caso dela, a Leucemia tem cura com apenas um transplante. Vamos acreditar nisso, Raquel.! - Sim, vamos. Depois de alguns dias no hospital, dona Luiza, finalmente, voltou para casa. Tia Zilda cuidou dela durante os dias de recuperação, revezando com Raquel e Henrique, que não se eximiu da função de filho. Para satisfação dos amigos virtuais, Henrique e Raquel colocaram na comunidade do Orkut que a mãe havia conseguido uma doadora e que realizara o transplante com sucesso. Agora só faltava a confirmação dos exames para saber se havia obtido a cura ou não. Repetiram essa notícia no site “QUEM PROCURA, ACHA” e no blog “CÂNCER MATA” com uma ressalva ao fim da mensagem: “Câncer tem cura!” Mesmo com a mãe em fase de recuperação, Henrique não escondia sua paixão por Ana e pelo Goiás Futebol Clube (GFC). Ganhou, de seu amigo Daniel, entradas para o clássico Vila Nova X Goiás no estádio Serra Dourada. Não deu outra! Convidou a namorada para assistirem ao jogo. O namoro dos dois era saudável, ambos se preocupavam com o futuro. A moça incentivou-o a cursar medicina em Oxford, na Inglaterra, pois sonhava fazer Arquitetura no exterior. Sabia que ele tinha os pré-requisitos exigidos pela universidade. Henrique gostou da idéia e prometeu pensar no assunto, pois, no momento, estava preocupado com a recuperação de dona Luiza. - O problema de saúde da minha mãe é realmente muito delicado! Mas, agora, vejo que poderemos respirar aliviados, tenho esperança nos resultados dos exames pós-operatórios. Sabe o que admiro? - O quê? – Perguntou Ana. - A história da minha irmã Raquel é fascinante! Ela é uma filha muito dedicada. Se existe algo que defina companheirismo, Raquel é a definição. Se uma mãe quer um filho exemplar, este filho não precisa ser como a Raquel, mas que seja ao menos um pouco do que ela é, pois, é uma menina incrível! - Todos que a conhecem dizem a mesma coisa, ela tem carisma e enfrenta dificuldades com tanta simplicidade que espanta a todos. Não perde as esperanças em nenhum momento. Eu gosto de ser amiga dela. Em poucos dias, dona Luiza já estava de pé. Recuperada ficou ansiosa por fazer os novos exames que indicariam seu estado atual.

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