quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 5 - UM ANJO Apesar de não ter dormido à noite, Raquel pulou da cama logo cedo, para ir com Rubens à faculdade, onde aconteceria uma palestra sobre o livro “Dr. Libério – o homem duplo”, de Bariani Ortêncio, cujo tema, segundo o amigo, era de seu interesse. Ao término da palestra, Raquel seguiu sozinha para o colégio, Rubens teria outras atividades na faculdade. Bastante interessada pelo livro, principalmente pelo episódio do transplante de cérebro narrado na ficção, foi à biblioteca da escola fazer um empréstimo, mas a bibliotecária informou-lhe que ali não havia sequer um exemplar daquela obra. - Nossa! Que acervo limitado! – Disse Raquel impressionada. – Seria possível incluir este título na lista de aquisição de livros literários? - Quem sabe? – Respondeu a bibliotecária, secamente. Mais tarde, Rubens tentou encontrar-se com Raquel na porta da escola, mas ela já havia saído. Seguiu para sua casa e a viu entrar em uma livraria. Ela estava à procura do livro. - Infelizmente não temos. Talvez você o encontre na livraria em frente. – Disse a vendedora. De fato, Raquel encontrou o livro na livraria indicada, mas ao perguntar o preço, percebeu que não tinha dinheiro suficiente para comprá-lo. Contentou-se em folheá-lo. Rubens entrou na livraria e pôs-se a observar Raquel de longe, sem que ela o visse. Ao sair, deparou-se com ele já na porta: - O que você está fazendo aqui? - Estava passando e a vi entrar, então resolvi te esperar para oferecer-lhe uma carona. - Que bom! Obrigada! No caminho conversaram sobre vários assuntos, mas sempre acabavam voltando para a doença da mãe. O celular de Raquel tocou, era a secretária do doutor Marcílio marcando uma nova consulta. O médico queria comunicar-lhes o resultado dos últimos exames de dona Luiza. Na véspera de Natal, tia e sobrinha dedicaram-se à arrumação da casa e à preparação da ceia. A cozinha tinha um cheiro natalino! Os pratos, que se resumiam em um chester, uvas, vinho e farofa, foram providenciados por elas com muito carinho. Mesmo debilitada, dona Luiza e sua família procuraram viver o verdadeiro espírito natalino: as orações proferidas por tia Zilda, naquela noite, ajudaram a renovar as esperanças de todos que ali estavam. Na cabeça de Raquel, era o momento de comemorarem a descoberta da família Albuquerque, ainda que encontrassem resistência por parte de seus membros. Durante toda a noite, os rapazes disputaram a atenção de Raquel. A pedido de Rubens, Márcio vestiu-se de Papai Noel para entregar os presentes de Natal à família Silva. Raquel ganhou de Paulo César um MP4 e, de Rubens, o livro que ela tanto queria, o que a deixou muito feliz. Para dona Luiza, Papai Noel entregou um perfume, do qual ela gostou muito; e tia Zilda ganhou um jogo de panelas. Na casa da família Albuquerque, o Natal foi suntuoso, como de costume; porém ocorreu num clima tenso, pois dona Rosana Almeida, apesar de ter consciência de que aquele não fosse o momento oportuno, estava ansiosa para falar à irmã sobre o que acabara de descobrir em relação ao passado e à vida de seu sobrinho Henrique. Durante a ceia ficou observando o comportamento do cunhado José Paulo, imaginando se ele ainda traía sua irmã como fizera no passado. Houve troca de presentes e, antes que a festa acabasse, receberam um telefonema de Henrique. A tia disse ao sobrinho que estava ansiosa pela sua chegada e que tinha uma grande surpresa para ele. Ao dizer-lhe isto, chorou e entregou o telefone à irmã. Na manhã do dia 26, doutor Marcílio, dona Luiza e Raquel reuniram-se com o doutor Renato em seu consultório: - Dona Luiza, a maioria dos casos de leucemia, independente do tipo e evolução, necessita de quimioterapia (medicamentos que destroem as células malignas), tratamento que a senhora está fazendo e com o qual temos alcançado nossos objetivos. Entretanto, doutor Marcílio e eu constatamos que além da quimioterapia, a senhora deverá mesmo fazer o transplante de medula. - Doutor, esse transplante vai mesmo me curar? - Dona Luiza, o transplante de medula óssea é um dos recursos utilizados para algumas doenças malignas que afetam as células do sangue. Ele consiste na substituição da medula doente, ou deficitária, por células normais, com o objetivo de reconstituí-las. O transplante pode ser autogênico, quando a medula ou suas células precursoras provêm do próprio indivíduo transplantado; e é dito alogênico, quando a medula ou as células provêm de um outro indivíduo. Também pode ser feito a partir de células precursoras de medula óssea, obtidas do sangue circulante de um doador, ou do sangue de cordões umbilicais. - O que isso significa, doutor? – Perguntou Raquel. - Quando analisamos os exames de sua mãe, percebemos que seu caso é grave, mas é possível a cura, se não perdermos tempo. Com seu nome na fila de transplantes, vamos tentar acelerar o processo e vocês poderão fazer nova campanha junto a familiares, amigos e comunidade. - Doutor, tenho outra pergunta a fazer. - Fale Raquel, quais são suas dúvidas? - Como o Banco de Medula vai saber se o doador é compatível ou não? - O doador precisa atender alguns pré-requisitos, como por exemplo: ter idade entre 18 e 55 anos, fazer um exame clínico que confirme o seu bom estado de saúde, entre outros. Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita por meio de uma pequena cirurgia, que dura aproximadamente 90 minutos, em que são realizadas múltiplas punções, por meio de agulhas que são injetadas nos ossos posteriores da bacia, de onde é aspirada a medula. Retira-se, no máximo, 10% da medula do doador, o que não causa qualquer comprometimento à sua saúde. Ficou bem esclarecido? Tem mais alguma pergunta? - Não, doutor, muito obrigada, ficou bem esclarecido sim. Quando isso acontecerá? - Assim que vocês nos apresentarem os possíveis doadores, começaremos os exames. Raquel e a mãe ficaram mais animadas! Começaram a listar nomes de amigos, parentes, colegas dos amigos e, claro, não se esqueceram de Henrique. Chegando em casa, Raquel surpreendeu-se com a presença de duas colegas da escola. Ana e Carolina já a esperavam por mais de 10 minutos. Como dona Luiza estava cansada, Raquel foi acomodá-la primeiro. Enquanto conversavam, Raquel contou do irmão e dos exames propostos pelos médicos. As amigas disseram que não tinham idade para serem doadoras, mas que poderiam ajudar, mobilizando a campanha. Por um instante, Raquel quis viver aquela emoção de ter amigas: começou a narrar seu Natal, falou dos amigos Rubens e PC e dos presentes que ganhara. Correu até o quarto para pegar o MP4 e o livro. Ana disse que já havia lido aquela obra e que gostara muito da história. Raquel se queixou da sua falta de tempo para a leitura, um dos seus hobbys prediletos. Ana falou dos autores goianos Bernardo Élis e José J. Veiga, e que na escola participara de uma encenação do conto “A Enxada” de Bernardo Élis. Com este bate-papo, a tarde passou rapidamente e o entardecer de Raquel foi mágico! Sentiu o espírito do Natal renovando sua vida. As amigas tiveram de ir embora, mas voltariam no dia seguinte para colaborarem com a campanha de doadores, juntamente com PC e Rubens. Raquel iria trabalhar. Na tarde do dia 27, após o almoço, Rubens encontrou-se com Ana, Carolina e Paulo César na casa de Raquel, para articularem as ações da campanha. Paulo César ligou seu laptop e viu que havia mais recados no site “QUEM PROCURA, ACHA”; no Orkut, mais participantes. Então, como primeiro passo, Carolina deu a ideia de mandarem, para todos eles, mensagens e scraps pedindo –lhes que se cadastrassem no banco de medula para fazerem os exames solicitados pelos médicos Renato e Marcílio, que os acompanhariam. Seria a primeira tentativa real em busca de doadores voluntários. Todos concordaram e assim o fizeram. Ana se encarregou de fazer um blog. Na comunidade “PELA VIDA DE MINHA MÃE” conseguiram identificar o endereço eletrônico de 57 participantes com idade acima de 18 anos. Enviaram e-mail a todos. No site “QUEM PROCURA, ACHA”, a lista foi menor: 23 endereços cadastrados. A lista crescia, à medida que se lembravam de amigos, parentes e vizinhos. Parentes do interior, professores e até comerciantes do bairro fizeram contatos. Quando Raquel chegou em casa, a mãe estava no sofá, embrulhada com uma coberta de retalhos e os amigos, reunidos em volta da mesa. Contaram a ela as providências tomadas por eles. A satisfação de dona Luiza e Raquel foi enorme! Envolvidos no trabalho nem perceberam o tempo passar. Apesar de ainda ser dia, já passava das sete horas no horário de verão. Despediram-se e cada um levou tarefas para o dia seguinte. Raquel saiu para acompanhá-los até a porta, quando escutou a tia chamar. Entrou correndo e, ao chegar à porta da sala, viu que sua mãe estava tendo uma crise. Rubens, que ainda não havia saído, correu com as duas para o hospital. Depois de medicada, dona Luiza foi internada. Raquel entrou no quarto: - Como está minha mãe, doutor? – Perguntou Raquel com lágrimas nos olhos. - O seu sistema imunológico está muito baixo por causa da quimioterapia. Isto é natural, mas ela vai ter de ficar internada, Raquel! - É grave? - Por enquanto não, mas vamos aguardar. Estamos introduzindo novos medicamentos para que o organismo dela reaja. Por causa da internação de dona Luiza, Raquel apavorou-se e ligou para dona Rosana para saber notícias do irmão Henrique. Dona Rosana confirmou que ele chegaria em dois dias, data em que provavelmente sua mãe receberia alta. A campanha dos amigos estava dando certo. Dez pessoas já haviam procurado os médicos no hospital Araújo Jorge para orientarem-se sobre os exames. Até dona Rosana compareceu ao banco de medula, a fim de ver a possibilidade de ser doadora. Aproveitou para visitar dona Luiza e falar com Raquel. Queria que ela a acompanhasse à casa de sua irmã, para lhe contarem a verdade. Raquel não hesitou. E lá se foram as duas. Embora encorajada por dona Rosana, e ciente da importância de enfrentar tudo aquilo, Raquel tremia quando chegaram à casa dos Albuquerque. Dona Rita era uma dona de casa exemplar: não trabalhava fora, e dedicava-se totalmente ao cuidado com a casa e à educação dos filhos. Marina era a filha mais velha, nascera três anos antes de Henrique. Depois que o menino fora deixado na sua porta, o casal resolveu não mais ter filhos. Henrique sempre foi considerado filho legítimo. Raquel foi convidada a sentar-se no sofá ao lado de dona Rosana Almeida. A irmã começou a falar do passado: - Rita, lembra-se daquela sua empregada, a dona Luiza Silva? - Sim. - Raquel é filha dela. - Mesmo? Realmente você lembra sua mãe. Como ela está? – Rita começou a desconfiar daquela visita. – Mas, sua mãe não havia se mudado para Brasília? - Sim. – Raquel respondeu timidamente. - Rita, temos de ter uma conversa muito séria. A mãe de Raquel precisa de sua ajuda, aliás, da ajuda da nossa família, minha irmã. - O que está acontecendo? Não estou entendendo. – Dona Rita começou a ficar ansiosa. - Não sei como dizer, mas tenho que falar. Antes, porém, gostaria que Raquel lhe falasse sobre dona Luiza. Raquel contou toda a trajetória de sua vida e da vida de sua mãe, desde a morte do pai. Falou e chorou. Entre soluços, contou que a sua maior esperança era encontrar o seu irmão. Nesse momento, as suas mão suavam. Dona Rita mudou o semblante. Não sabia ainda o que estava por vir. - Tá, mas o que minha família e eu temos com isto? - Rita, lembra-se de como o Henrique foi parar na porta de sua casa? Tivemos de nos mudar do Setor Marista porque alguns vizinhos queriam contar-lhe que ele havia sido adotado. - Vocês estão querendo me dizer que meu filho é filho da Luiza? – Rita perguntou isso, chorando e caminhando de um lado ao outro. Estava atordoada. - Sente-se e escute-me, Rita! – Rosana buscou um copo de água com açúcar para a irmã. - O Henrique é, sim, filho da Luiza. Mas a história é mais complicada. Quando Rosana disse isso, o celular de Raquel tocou. Era doutor Marcílio chamando-a. Raquel saiu desesperada. Dona Rosana a alcançou e a levou até o hospital. Rita Albuquerque entrou em desespero. Vários pensamentos invadiram sua alma: “por que isso agora? Querem me tirar meu filho? Eles pensam que contando a verdade, Henrique vai deixar de gostar de mim? O que dona Luiza quer?” Os pensamentos deixaram Rita transtornada. Ligou para o marido a fim de contar o ocorrido, mas ele não atendeu a sua chamada. Raquel nem pôde sentir-se aliviada por ter contado parte da verdade à dona Rita, pois, ao chegar ao hospital, presenciou o sofrimento da mãe causado pela medicação extremamente forte, a que estava sendo submetida. Os remédios eram muito caros e Raquel não teria como comprá-los depois que a mãe saísse do hospital. Paulo César pediu ao tio que ajudasse no que fosse possível, mas o doutor Marcílio disse que não teria como doar todos eles. Então dona Rosana, sabendo das dificuldades, deu o dinheiro a Raquel para que comprasse os próximos medicamentos. Ela agradeceu e disse a dona Rosana: - Meu irmão é uma esperança, uma promessa para a vida de minha mãe, e a senhora é um anjo que apareceu na nossa vida. Nem sei como agradecê-la. - Raquel, eu ainda não fiz minha parte. Ainda não terminamos de contar toda a verdade a Rita. Amanhã voltarei para te pegar, antes de Henrique chegar. Tudo bem? Com um sorriso frágil, Raquel agradeceu e disse a dona Rosana: - Sim. Eu irei, mas vou contar-lhe uma coisa: estou com muito medo. Nunca pensei que viveria uma história como esta, mas minha mãe é muito importante pra mim e é por ela que vou enfrentar esta situação. Até amanhã, dona Rosana! - Até, Raquel!

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