quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Escreva e Aconteça - Raquel, Coragem e Determinação

Coautores Coordenadores: Júnior, André e Álvares, Shirlene Capítulo 3 - PELA VIDA DE MINHA MÃE Raquel, apreensiva, questionava a arrancada de Rubens: por que ele não os cumprimentou? Por que agiu com tamanha falta de educação? O que teria passado pela sua cabeça? Esses questionamentos a perturbavam, mas nada poderia fazer naquele momento. De súbito, foi interpelada pelo doutor Marcílio: - Raquel, sua mãe poderá vir na quinta-feira? - Tudo bem, doutor, viremos na quinta-feira de manhã. - Combinado. Ao saírem, Paulo César quis conversar: - Raquel, achei estranho o comportamento do Rubens. Parece que ele ficou com ciúmes de você. - Será? Mas ele é só meu amigo! - Se ele fosse realmente seu amigo teria outra atitude, e não se comportaria como um garotinho enciumado, querendo chamar atenção de todo mundo. - Calma, PC! Vamos esquecer esse assunto, amanhã eu converso com ele. Agora preciso ir, pois já é tarde e minha mãe não gosta que eu chegue atrasada para o almoço. Em casa, Raquel encontrou a mãe chorando. Tentou consolá-la comunicando-lhe que na quinta-feira iriam ao ambulatório para que doutor Marcílio olhasse os exames e avaliasse o seu quadro clínico. Como também ela estava muito triste, nem almoçou; foi para o quarto e pôs-se a pensar no que aconteceria com sua vida, caso perdesse sua mãe. O toque da campainha interrompeu seus pensamentos. Era Rubens: - Vim pedir-lhe desculpas pelo que aconteceu hoje cedo. - Eu não entendi sua atitude, Rubens; mas quero deixar claro que, apesar de gostar muito de você, o meu objetivo neste momento é ver minha mãe curada, concluir meus estudos e ter uma vida mais digna. - É, reconheço que fui mesmo muito infantil. - Deixa pra lá! Está desculpado. - Trouxe um presente para você. - Presente? – Perguntou Raquel, pegando o embrulho. – O que é? - Abra! - Um celular?! Não posso aceitar, Rubens. - É para conversarmos. E se, de uma hora para outra, eu ficar sabendo de alguma pista sobre o seu irmão? Como irei avisá-la, se moramos tão longe um do outro? O celular facilitará nosso contato. - Sendo assim, eu aceito. – E com um sorriso tímido, Raquel agradeceu o presente. - E sua mãe? Como está? - Nada bem. Agora há pouco estava chorando. Dona Luiza chorava ao pensar na morte, não que tivesse medo de morrer, porque na verdade não tinha, mas temia pela sua filha. O que ela faria sozinha neste mundo? - Vocês não encontraram nenhuma pista sobre o paradeiro do seu irmão? - Não, mas vamos encontrá-lo. Tenho certeza! - Tenho que ir, voltarei mais tarde. Coloquei créditos no celular para que me ligue quando quiser. - Tá bom, Rubens, obrigada por tudo que você está fazendo por mim e por minha mãe! Logo que Rubens foi embora, Raquel saiu para catar latinhas ali mesmo perto de sua casa, onde estava sendo inaugurada uma quadra de esportes. O primo Márcio foi junto. Já se passava das 15 horas e Raquel sentiu fome. Entraram numa padaria e pediram um lanche. Sentaram-se em uma mesa e enquanto aguardavam o pedido, ela se lembrou de sua infância, dos momentos bons que tivera com seus pais, apesar da vida simples: chegaram a passar fome. Era uma garota sonhadora, uma aluna dedicada que almejava prestar vestibular e entrar para a universidade. Mas naquele momento só pensava no pior, não sonhava, não queria pensar no futuro, pois o futuro era incerto, obscuro. Então chorou. O primo tentou dar-lhe força, sem muito resultado. Quinta-feira pela manhã. Mãe e filha saíram do consultório médico e, mais uma vez, muito tristes. Como era esperado, a avaliação do doutor Marcílio não foi diferente do que o doutor Gouveia já havia constatado: era mesmo um caso muito grave. No outro dia, Raquel foi à escola, mas não conseguiu prestar muita atenção nas explicações dos professores. No final da aula, resolveu passar na casa de Rubens. Enviou-lhe um torpedo que ele logo respondeu dizendo-lhe que estava à sua espera. Entraram no site “QUEM PROCURA, ACHA”, e que surpresa! Já havia mais de trinta participantes na comunidade “PELA VIDA DE MINHA MÃE”. Alguns se manifestaram sobre a doença, dando depoimentos; outros deixaram recadinhos de otimismo. Aquilo reanimou Raquel. Paulo César estava on line no MSN. Eles conversaram e ela o agradeceu pela comunidade que estava fazendo sucesso. Ele aproveitou para falar que às 16 horas a pegaria em casa para darem uma volta pela cidade. Rubens, que não gostou nem um pouco de presenciar o diálogo dos dois, pensava: “agora ela só dá moral pra ele. Como se não bastasse tê-la acompanhado ao hospital naquele dia, agora de papinho no MSN, combinando horário para passar na casa dela. Mais essa agora!” Raquel e Paulo César andavam pelas ruas, quando foram interrompidos por um repórter de televisão, que estava fazendo uma pesquisa sobre as cotas nas universidades públicas, Disse-lhes que gostaria de ouvir a opinião deles a respeito do assunto. Raquel manifestou-se, mas, ao se dar conta da presença de Paulo César, omitiu algumas críticas que faria aos alunos de escolas particulares que se queixam do sistema de cotas, pois Paulo César estudava em um renomado colégio particular de Goiânia, e poderia sentir-se ofendido. O repórter agradeceu-lhes e, antes de se despedir, Paulo César indagou-lhe: - Estamos à procura de uma pessoa. Será se você não poderia nos ajudar a encontrá-la? - Talvez sim, através da mídia. O repórter orientou-lhes a procurarem o senhor Luiz Antônio, chefe do Departamento de ações sociais da emissora de TV, onde ele trabalhava. No outro dia, Raquel e Paulo César procuraram o senhor Luiz Antônio que os convidou a participarem de um programa de entrevistas da emissora, cujos entrevistados eram familiares de pessoas desaparecidas, que estavam à sua procura. Ao ser entrevistada, Raquel contou sobre o passado da mãe, falou sobre a família Albuquerque e sobre a intenção de encontrar o irmão: não era somente porque a mãe precisava de um transplante de medula óssea, mas, também, porque gostaria de conhecê-lo; afinal ele era o seu irmão mais velho. Ela falou e chorou. O apresentador ficou comovido. Ao término do programa, Paulo César levou Raquel para casa. Ela estava ansiosa para ver sua mãe e contar-lhe sobre a entrevista. No ar, ela havia dado o seu endereço eletrônico e o número de seu celular, para contato. Estavam muito animados, mas de repente Paulo César conseguiu acabar com a alegria de Raquel: - Eu queria perguntar-lhe uma coisa, mas fico meio sem jeito, pois é meio constrangedor. - Tudo bem, PC. Pode perguntar. - Você já pensou na possibilidade do seu irmão não aceitar a idéia de ser doador? Já pensou que ele pode não saber que é um filho adotivo? Que pode sentir mágoa de sua mãe, por tê-lo abandonado?

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